No momento que se discute a repressão da Ditadura Militar,
um assunto ainda desconhecido da maioria dos brasileiros, cercado de mistérios,
segredos e lendas, um relato sobre uma peça teatral escrita nesse período, 1967, por
Chico Buarque de Holanda, dirigida por José Celso Martinez Correa:
“(...)Na crítica ao espetáculo, *¹ Marco Antônio de Menezes
descreve: "A cortina já está aberta quando você chega: enormes rosas à
esquerda, enorme garrafa de Coca-Cola à direita, enorme tela de TV no fundo,
uma passarela branca avançando até metade da plateia. [...] A campainha toca
três vezes, a plateia faz silêncio, ruídos estranhos saem dos alto-falantes, na
tela de TV aparece uma frase: 'Estamos à toa na vida'. [...] Entra o coro, com
longas túnicas vermelhas e mantilhas pretas. Canta uma triste Aleluia, rodeia Benedito.
Aparece o Anjo da Guarda (Antônio Pedro), o empresário de TV, com asas negras,
cassetete de policial na cintura, maquiagem de palhaço de circo: 'Benedito não
serve, nós precisamos de um ídolo! Você será Ben Silver!' E o coro joga para
trás as túnicas e mantilhas, é agora um grupo de jovens iê-iê-iê que canta:
'Aleluia, temos feijão na cuia!' [...] O espetáculo não está somente no palco,
o coro invade a plateia, conversa com ela, e o empresário pede um minuto de
silêncio em homenagem ao ídolo: cada participante do coro olha fixamente um
espectador (agora todos já entendem por que a bilheteria insistiu em vender
ingressos da primeira fila). [...] O minuto termina, Ben Silver é carregado
para o palco num grotesco andor feito de long-plays e fotos de cantores,
conduzido por grotescas caricaturas das 'macacas de auditório', que no fim do
primeiro ato o levam embora, deitado sobre uma cruz de madeira, nu, cansado sob
o peso do próprio sucesso. [...] Ben Silver, esgotado pelo sucesso, procura o
consolo de sua mulher [...] para uma linda cena de amor que é repentinamente
interrompida pela câmara (sic) de TV e pelo Capeta (o jornalista desonesto)
[...]. E juntos, o jornalista e o Ibope decretam o fim da carreira de Ben
Silver: 'O ídolo é casado! E além de tudo, é bêbado!' Uma procissão de três
matronas antipáticas tenta salvar o ídolo exigindo que ele faça caridade. Mas
nada adianta, Ben Silver acabou. Só há uma solução: transformá-lo em Benedito
Lampião, o 'cantor de protesto', vestido de nordestino, falando de 'liberdade'
e de 'vamos lutar'. A esquerda festiva o aclama, o jornalista vendido perde sua
porcentagem e a vontade de elogiar o Lampião. O Ibope, vestido de papa, decreta
novo fim para Benedito Lampião. Para manter o prestígio, ele deve suicidar-se.
[...] A plateia sai do teatro evitando sujar os saltos dos sapatos Chanel nos
restos do fígado de Benedito Silva que o coro das fãs devora no final. [...]
Tudo é caricatura do religioso no espetáculo, que, como atividade religiosa, se
desenvolve em todo o teatro, palco, galerias, plateia (O teatro com que sonhava
Antonin Artaud). Para criar o ídolo, ele é liturgicamente paramentado, peça por
peça de seu ridículo traje prateado. [...] os atores se dirigem agressivamente
à plateia, fazem perguntas, pedem assinaturas em manifestos, sacodem e encaram
os espectadores (a censura de 14 anos me parece muito pouco severa para o
espetáculo). Ben Silver se encontra com a esposa coroado de espinhos, nu, como
o Cristo. A tentativa de salvar o ídolo em decadência é encenada como uma
procissão, liderada pelo Capeta (seria a peça toda uma Missa Negra?) - que
satiriza o jornalista marrom - usando como cruz o conhecido 'X' de lâmpadas
empregado pelos fotógrafos. E a primeira cena entre Benedito e sua mulher é uma
caricatura da Visitação de Nossa Senhora. [...] Elementos cristãos, aliás, são
misturados com rituais pagãos (o fígado de Prometeu, as orgias de Dionísio),
até com rituais políticos (a foice-e-martelo no chapéu nordestino de Benedito
Lampião). José Celso, na realidade, mais que dirigir, celebrou Roda Viva”.(*¹ - MENEZES, Marco Antônio de. Roda Viva, de Francisco
Buarque de Holanda. Jornal da Tarde, São Paulo, 2 fev. 1968) - (Fonte: Itaú Cultural.org.br)
Na estreia, no Rio de Janeiro, fizeram parte do elenco Marieta Severo, Heleno Prestes e Antônio Pedro, nos papéis principais, e a temporada foi considerada um sucesso.
Durante a segunda temporada, em São Paulo, com Marília Pera,
André Valli e Rodrigo Santiago substituindo o elenco original, a obra virou um
símbolo da resistência contra a ditadura militar. Um grupo de cerca de cem
pessoas do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), invadiu o Teatro Galpão, e
espancou os artistas e depredou o cenário.
Após o revés na capital paulista, o espetáculo voltou a ser
encenado, desta vez em Porto Alegre. No entanto, os atores da peça voltaram a
ser vítimas da violência e intransigência do CCC e, após este segundo
incidente, o Roda Viva deixou de ser encenada. Mas esta é considerada uma das
mais importantes peças de teatro brasileiras já produzidas nos anos 60.
(Wikipédia)
(...)O teatro também sofreu os reveses de um ano tumultuado. Em
18 de julho O Galpão, sala do Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, que
apresentava a peça “Roda Viva”, foi invadido e depredado pelo CCC (Comando de
Caça aos Comunistas). O CCC nasceu nas salas do Mackenzie, tradicional
universidade paulistana. Em nome dos bons costumes, perseguiram várias peças
consideradas subversivas e agressivas à moral conservadora que hipocritamente
defendiam. “Roda Viva” era uma peça de Chico Buarque e encenada por José Celso
Martinez Corrêa. Durante a invasão, 20 homens armados com cassetetes e
soco-inglês sobre as luvas, espancaram os atores, destruíram camarins, bancos,
refletores, instrumentos e equipamentos elétricos. Marília Pêra, a protagonista
da peça, foi agredida por cassetete no camarim, teve as roupas rasgadas, sendo
arrastada para a rua. Também foram agredidos: o assistente de coreografia Jura
Otero, os atores Rodrigo Santiago, Margot Baird, Eudóxia Acunã e Walkiria
Mamberti.
Outros incidentes ocorreriam com “Roda Vida”. Em outubro,
poucos dias antes da sua estreia em Porto Alegre, panfletos foram distribuídos
pela cidade dizendo: “Hoje poupamos a integridade física dos atores e
espectadores, amanhã não”. A cidade encheu-se de cartazes do CCC com ameaças
aos atores, incitando-os a deixar a cidade. À noite, quando o elenco voltava da
peça para o hotel onde estava hospedado, foi atacado por 30 homens armados. A
atriz Elizabeth Gasper e o violinista Zelão, seu marido, que faziam parte do
elenco da peça, foram sequestrados, humilhados e abandonados longe da cidade.
Durante o sequestro, foram pressionados a deixar a cidade em 16 horas.
(Fonte: http://jeocaz.multiply.com/journal?&page_start=180&show_interstitial=1&u=%2Fjournal).
Atuação: Segundo o almanaque do jornal Folha de S. Paulo, o
CCC foi responsável pelos seguintes eventos:
- Invasão do Teatro
Ruth Escobar, em São Paulo, onde espancaram o elenco do espetáculo Roda Viva
(em 18/7/1968);
- Atentado à bomba no
Teatro Opinião, no Rio de Janeiro (em 2/12/1968);
- Sequestro e
assassinato do padre Antônio Henrique Pereira Neto, em Recife (em 26/5/1969).
De acordo com a professora Maria Yedda Leite Linhares,
primeira mulher catedrática em História da Universidade do Brasil (em 1955),
"(...)quando houve o golpe militar, a Rádio MEC foi invadida por
integrantes do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) que literalmente destruíram
seus estúdios."
Segundo relatado pela Fundação Perseu Abramo e publicado
pelo jornal Folha de S. Paulo em 28 de novembro de 1977, "(...) As sedes
dos DA de Filosofia e Letras, DA Leão XIII, CA de Ciências Sociais e Serviço
Social, CA 22 de agosto e do DCE -Diretório Central dos Estudantes- foram
depredadas. Portas que estavam fechadas apenas com o trinco foram arrombadas a
pontapés. As gavetas foram arrancadas fora das mesas e seu conteúdo jogado no
chão. Em vários restos de portas ficaram bem nítidas as marcas dos pontapés. Em
diversas salas foi pichada a sigla CCC (Comando de Caça aos Comunistas),
organização que, como a AAB Aliança Anticomunista Brasileira, se opusera à
ideologia comunista. Uma lista enorme de bens das entidades foi levada pela
polícia. A biblioteca também foi invadida e seus ocupantes expulsos aos gritos
e ameaças de cassetetes. Os policiais jogaram vários livros no chão. Entraram
com violência e, usando palavras de baixo calão, nas salas de aula, prendendo
todos os seus ocupantes, e muitas vezes espancando-os..."
Voce sumiu de repente, nem me disse o que achou das fotos que enviei...
ResponderExcluirTudo bem com voce?
Beijo.
Libera o email do YR por uns minutos pra eu te enviar umas fotos, não quero ter que publicar pra poder mandar o URL...
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