quarta-feira, fevereiro 26

* Roberto Carlos e o comercial da Friboi

Tem muitos e muitos e muitos anos que não aguento  mais ver a cara de Roberto Carlos e seu sorriso forçado a cada flash, a cada especial de fim de ano, a cada rara entrevista, muito menos ouvir sua risada irritante e suas musiquinhas medíocres.
Me surpreende, mas não posso negar a realidade, como ainda causa frisson!!!! Tá, naquela mulherada vazia e rica que parou nos anos sessenta, setenta, que nunca mais teve motivos pra sonhar!! Mas, pow.. tanta coisa boa que aconteceu nesse período, cultuar justo Roberto Carlos?
Tá, vamos relevar a veneração das eternas fãs e meus comentários também...Extremos, reconheço!
Agora, o comercial da Friboi....!!! Peralá, como vamos comentar o espetáculo mambembe?
Não vamos, reproduzo aqui uma carta do Regis Tadeu que me representa .... quer dizer, mais ou menos!hahahahahahahah
Depois dessa vou viver de luz solar!


"Oi, Roberto! Tudo bem? Espero que sim... 

Você não me conhece e sequer ouviu qualquer menção a respeito de meu nome, mas isto não importa. Quem lhe escreve aqui é um cara que sempre admirou muito o seu trabalho até 1977, que foi o último ano em que você gravou um disco inteiro decente. De lá para cá, seus álbuns decaíram de qualidade de maneira assustadora. Em cada um deles, dá para pinçar uma ou duas faixas razoáveis, dignas de seu passado musical. O resto é de uma pobreza constrangedora. De uns anos para cá então, nem mesmo uma única canção boa dá para salvar.
Escrevo isto para que você, caso um dia venha a ler este texto, saiba que não faço parte do imenso séquito de “baba ovos” que você tem ao seu redor e, pior, que fazem parte da mídia. De qualquer mídia. Não compactuo com aqueles que se ajoelham perante sua figura vestida de azul e engolem com prazer qualquer bobagem que você diga e cante. Muito menos com aqueles covardes que não criticam suas atitudes mesquinhas e equivocadas. E pode apostar: você dá muita mancada por aí. E não escrevo isto tentando fazer piada com a sua perna perdida, um problema que você tem todo o direito de se recusar a falar, mas que não pode fingir que ninguém sabe disto. É que realmente você erra, como todos nós. E muito.
Não vou entrar no mérito da atitude horrorosa que você teve ao processar um de seus maiores fãs, o talentoso Paulo Cesar de Araújo, que escreveu uma ótima biografia a seu respeito, Roberto Carlos em Detalhes. Também não vou comentar a sua posição a favor da censura generalizada de biografias. Estas duas atitudes foram apenas algumas que mancharam a sua história como artista e como pessoa para sempre. O assunto agora é... “Friboi”.
Não se preocupe. Não sou vegetariano e muito menos estes ‘vegans’ chatos pra cacete que andam por aí patrulhando o prazer gastronômico dos outros, tipo o Morrissey. Pelo contrário, sou um carnívoro devotado, que come carne todo dia. Não concordo com a maneira com a qual os animais são mortos, mas isto é papo para um outro texto neste blog. O que quero abordar aqui é o modo como você, de um jeito muito, mas muito falso, resolveu tentar enganar o seu público dizendo que deixou de ser vegetariano, uma opção que você carrega há mais de 40 anos.
Não baseio esta minha opinião em qualquer fonte próxima a você, fique tranquilo. Sei disto apenas reparando na cara de nojo que você fez na propaganda que fez para a marca. Vamos relembrar?
Sim, é isto mesmo. Não adiantou colocar o seu sorriso branquíssimo em um rosto cada vez mais plastificado. Você não conseguiu enganar ninguém.
O que mais me espanta nesta história são os motivos que levaram você a fazer isto. O primeiro – e único - que me vem à cabeça é “grana”. Porra, Roberto!!! Desde quando você precisa de dinheiro? Se você pegar todo o babilônico cachê que recebeu e doá-lo para alguma instituição de caridade, posso até dar uma relevada na imensa decepção que tive - e tenho - com a sua atitude. Caso contrário, vou continuar muito puto da vida...
E sabe por quê? Porque não posso ter respeito por alguém que vende suas convicções. Não posso olhar com admiração para um cara que, por conta de uma bolada de dinheiro espetacular, tenha varrido para debaixo de um tapete imundo e mofado todo um modo de vida que o manteve saudável até os dias de hoje.
Sim, eu sei que você não deixou de ser vegetariano. Deu para sacar pelo sorriso falso e pelo nojo em seus olhos que aquele bife no prato era um troço de embrulhar o estômago para um cara como você, mas... Porra, Roberto, se ligue!!! Tenho certeza que alguém do staff da empresa e da agência de publicidade que fez a propaganda até tentou convencê-lo a dar uma ‘garfada’ no bife, né? E, obviamente, você recusou com veemência, certo? Então...
Não vou pedir desculpas por minha sinceridade. Se um dia você ler isto, entenda como um esporro de um amigo. Leia como se você tivesse reatado sua amizade com o Erasmo Carlos e ele, em uma bela tarde de sol, sentado com você ao lado da piscina, lhe dissesse a mesma coisa, sem o espírito bajulador de seus “baba ovos”. Não escrevo isto tentando me comparara ao Erasmo – pelo amor de Nossa Senhora, longe disto!-, mas sei que o “Tremendão” pensa o mesmo que eu.
Despeço-me aqui com um abraço caloroso no homem Roberto Carlos, não no artista Roberto Carlos, esperando que você compreenda que, no seu caso em particular, um tem que ser igual ao outro.
Com afeto...

REGIS TADEU"
 
 

domingo, fevereiro 9

* Quem tem medo das brasileiras?




A fama de mulheres fáceis é um insulto, mas deveria ser uma medalha


Muitas mulheres que eu conheço já passaram pela mesma situação: em viagem pela Europa, a moça diz que é brasileira e seu interlocutor abre um sorriso de quem ganhou na loteria. O que se segue, frequentemente, é uma conversa desagradável, em que o cara se oferece descaradamente e a moça, meio desconcertada, tenta corrigir o mal entendido. Quando, afinal, recebe um não peremptório, o sujeito se finge perplexo: “Mas eu pensei que as brasileiras gostassem de sexo...”

Sempre foi minha impressão que esse tipo de atitude partia de homens ignorantes, aquele tipo de europeu sem instrução que sonha em fazer turismo sexual no Brasil e acha que toda jovem brasileira está interessada no pouco que ele tem a oferecer. Na semana passada, os fatos deixaram claro que não é assim.

Por causa de uma eleição estudantil, alunos estrangeiros da Universidade de Coimbra, em Portugal, fizeram uma campanha para divulgar as agressões que sofrem na escola. A coisa é feia para o lado das brasileiras. Professores imitam seu sotaque para falar das “garotas de programa”; professoras aconselham que elas “se comportem” para não reforçar a imagem de mulheres fáceis; colegas fazem piadinhas obscenas em torno delas. Ouvir insultos de um bêbado numa estação de trem às 10 da noite é uma coisa. Ouvi-los em sala de aula, da boca de professores, é inaceitável. 

Como eu não estudo em Coimbra, e nem pretendo, deixo aos envolvidos (e ao Itamaraty...) a tarefa de lidar com esse rompante de xenofobia acadêmica. O que me importa é tratar da imagem das brasileiras no exterior, e o que ela diz sobre nós e o nosso país.

Não sei como ganhou mundo essa história da brasileira fácil, mas não é difícil imaginar. Durante o carnaval, TVs de toda parte exibem passistas deslumbrantes usando tapa sexo e mais nada. Você e eu conhecemos o contexto do espetáculo. Sabemos que Sabrina Sato e Aline Riscado são artistas e que aquilo é parte do trabalho delas. Mas quem vê do outro lado do Atlântico e não tem muitas luzes, pode imaginar diferente. Pode achar que as brasileiras andam peladas e sorridentes nas ruas do Rio e de São Paulo. Não tem cabimento, claro. É um tipo de generalização burra, mas há burros em toda parte, em alguns lugares mais do que em outros.

O grande número de prostitutas e travestis brasileiros na Europa também contribui para essa imagem distorcida - e não há nisso nada de inédito ou extraordinário. No passado, quando a Europa era um continente faminto, jovens francesas e polonesas se espalhavam pelo mundo para ganhar a vida, e viraram sinônimo de putas. Hoje são russas, assim como as brasileiras e asiáticas, que ocupam esse mercado e arcam com a má reputação.

Eu poderia parar por aqui, atribuindo a imagem das brasileiras a uma conspiração de mídia carnavalesca e travestis do Bois de Boulogne, mas isso seria falso e deixaria de lado algo essencial.

Acho que por trás da lenda da brasileira que dá existe um grau de verdade. As nossas mulheres são de fato sexualmente mais livres do que outras. Entre nós, a camada de repressão e vergonha, que em toda parte reveste a sexualidade feminina, talvez seja mais fina. O machismo brasileiro não produziu mulheres castradas, medrosas, pudicas. Dele emergiram, no século XX, garotas sexualmente ativas e independentes. A libido feminina entre nós é forte. Existe um erotismo na cultura feminina brasileira semelhante ao erotismo dos homens, e talvez seja essa a nossa grande virtude: enquanto em outras culturas há um abismo entre o comportamento sexual das mulheres e dos homens, aqui a diferença é menor, embora ainda seja notável.

Dou um exemplo: uma amiga brasileira vivendo em Barcelona cansou de ouvir, em festinhas, a roda de mulheres reclamar dos maridos que queriam fazer sexo toda hora. Minha amiga, espantada, tinha vontade de perguntar do que, exatamente, elas estavam se queixando, mas calava-se. “Eu achava aquilo um absurdo, mas percebi, rapidamente, que não pegava bem uma mulher mostrar que gosta de sexo”. Acho que essa historieta real ilustra a diferença de culturas e de comportamentos.

Isso não significa, evidentemente, que as brasileiras saem por aí dando para todo mundo, como supõem os imbecis. Nem que todas as brasileiras, do ponto de vista do sexo, se comportem de forma igual. Mas me parece tranquilo afirmar que, dentro ou fora do Brasil, nossas mulheres gozam de liberdade interior para fazer sexo quando e com quem acharem que é o caso. E isso é bom. Não se pode estar no século XXI e achar que as mulheres não têm desejo ou que não têm direito a manifestá-lo ou exercê-lo. Sem a liberdade sobre o corpo, nenhuma outra liberdade subsiste.

Nem todos percebem a situação assim, naturalmente. Liberdade sexual não combina bem com mentalidades atrasadas. Quanto mais machista for o lugar, quanto mais reprimida a sexualidade das mulheres, mais escândalo provoca a possibilidade do seu comportamento livre. Onde a repressão e a ignorância predominam, a liberdade ofende. É uma regra inescapável.

Mas eu imagino que no futuro, quando o Brasil for um país menos pobre, e, portanto, vítima de menos preconceitos, a liberdade sexual da cultura brasileira será percebida, no mundo inteiro, como parte de um jeito de viver melhor e de ser mais feliz. Um povo que celebra o próprio corpo e não se envergonha da sua sensualidade é um povo melhor. Um ou outro professor na Universidade de Coimbra, ou na Universidade Rei Abdullah, na Arábia Saudita, pode discordar - mas, francamente, quem se importa com eles? (Ivan Martins – Época)