sábado, junho 30

* Sobre delicadezas....



Jade

 

Aqui meu irmão ela é coisa rara de ver
E jóia do Xá retina de um mar
De olhar verde já derramante
Abriu-se Sézamo em mim
Ah! meu irmão aqualouca tara que tem ímã
Mergulha no ar me arrasta me atrai
Pro fundo do oceano que dá
Prá lá de Bagdá prá cá de além
Pedra que lasca seu brilho
E que queima no lábio um quilate de mel
E que deixa na boca melante
Um gosto de língua no céu
Luz talismã misterioso cubanacã
Delícia sensual de maçã
Saborosa manhã
Vou te eleger vou me despejar de prazer
Essa noite o que mais quero é ser
1001 pra você....
Jade...Jade...Jade...




"Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande delicadeza."
Clarice Lispector

* Gosto de tatoos.., mas....

Não consigo entender a compulsão...

 


Participantes aguardam para exibir suas tatuagens na categoria de corpo inteiro na Convenção da Associação Nacional da Tatuagem em Cincinnati, Ohio, em 13 de abril.


Homem tem a cabeça tatuada durante o Festival de Tatuagem de Hampton Roads, na Virgínia, em 3 de marçoJason Reed/Reuters

'Viciado' em tatuagens mostra os desenhos de tema celta em sua cabeça, uma das tatuagens colecionadas ao longo de 40 anos, durante feira em Cincinatti, em 14 de abril.


Mulher tatuada posa com o filho durante o Festival de Tatuagem de Hampton Roads, na Virgínia, em 3 de março.





O japonês Yoshi sorri e arranca risos de juízes do concurso de tatuagem em Cincinnati, no estado de Ohio, ao exibir pênis tatuados nos braços, em 13 de abril

Participante exibe as tatuagens nas costas para juízes em Cincinatti, em 13 de abril.



Bom final de semana a todos!

sexta-feira, junho 29

* Entrevista com Laerte, o cartunista



Laerte de batom, unhas pintadas, brincos e cabelos chanel, elementos que agregou recentemente às roupas masculinas. Desejo de explorar o universo feminino. 

O cartunista Laerte, com 40 anos de carreira e 59 de idade, lança 'Muchacha', coletânea de quadrinhos sobre os bastidores de uma série televisiva. No livro, um dos personagens, Djalma, se veste de mulher - comportamento que o próprio ilustrador vem adotando desde 2009 como reflexo de uma crise pessoal e profissional.

"Tenho vergonha de quase tudo que desenhei"


Passava das 14h30 de uma quarta-feira e Laerte Coutinho ainda não chegara à entrevista. Eu o aguardava numa padaria da Vila Madalena, bairro notívago de São Paulo. O cartunista de 59 anos, que está completando quatro décadas de uma carreira elogiadíssima, deveria aparecer 30 minutos antes. Como não dava as caras, resolvi lhe telefonar. "Putz, rapaz! Me esqueci de você!", constatou, aflito. Saiu correndo do Butantã, onde mora num sobrado com dois gatos, e adentrou a padaria às 15h20. Exibia vistosos brincos de pérolas e um corte de cabelo chanel.


Apenas no fim da conversa, que durou quase três horas, esclareceu o motivo do visual peculiar: desde 2009, como resultado de uma profunda crise, mantém o hábito de se vestir de mulher, total ou parcialmente. A prática também pontua o livro Muchacha, que o desenhista paulistano acaba de lançar. A coletânea reúne quadrinhos publicados no jornal Folha de S.Paulo e retrata os bastidores de uma série televisiva dos anos 50. Um dos personagens, o ator gay Djalma, protagoniza espetáculos musicais sob a pele de uma transexual cubana.

BRAVO!: Você costuma esquecer compromissos?

Laerte Coutinho: Não, não costumo. É verdade que, às vezes, me desligo um pouco da Terra e vou para o mundo da Lua. Mas, em geral, me julgo um camarada bem responsável.

Então por que você se esqueceu do nosso encontro? Tem ideia?

LC: Sinceramente? Freud explica. Freud sempre explica. Na realidade, não queria dar entrevista. Estou me obrigando… Atravesso um período nebuloso, sabe? Uma crise gigantesca, tanto pessoal como profissionalmente. Não ando satisfeito com minhas criações e não imagino um modo de torná-las satisfatórias no curto ou no médio prazo. Talvez nem mesmo no longo. Uma sinuca de bico… Falar sobre minhas ilustrações, meus cartuns e minhas tiras neste momento me incomoda muito. É reivindicar importância para algo que já não avalio como tão relevante. Hoje não acredito que possa despertar o interesse de alguém. Sinto vergonha de quase tudo o que produzi em 40 anos de carreira. Gostaria de consertar a maioria das coisas.

Vergonha? A palavra me soa forte demais, entre outras razões, porque você ganhou inúmeros prêmios e porque diversos cartunistas, incluindo os jovens, frequentemente o classificam de genial.

LC: O problema é que não me convenço. (risos) Genial? Considerava-me gênio quando adolescente. "Uma hora o mundo vai me descobrir", pensava, enquanto rabiscava carros, barcos, guerreiros. Tremenda bobagem… Claro que enxergo qualidades no que fiz e no que faço. Longe de mim bancar o coitadinho ou apelar para a falsa modéstia. Só que tais qualidades não chegam nem perto das que me atribuem. Eu não me contrataria. (risos) Na década de 1980, por exemplo, participei do Festival Internacional de Quadrinhos em Angoulême (sudoeste da França). Fui representar o Brasil com o Ziraldo e mais alguns colegas. Assim que desembarquei na cidade, bateu um desconforto horrível. Tive ímpetos de cavar um buraco e sumir. Os franceses, que publicam HQs sofisticadérrimas, maravilhosas, simplesmente nos desprezaram - ainda que de maneira diplomática. Eles examinavam as nossas produções, arrebitavam o nariz e comentavam: "Curioso, curioso…" Aquilo me pareceu uma baita injustiça contra o Ziraldo e o resto da turma, mas não em relação às charges que levei para lá. Confesso que adoraria adorar a minha profissão. Adoraria ser como o Angeli, que desenha com um amor imenso. Ou como o Robert Crumb, que desenha compulsivamente. Ou como o Paulo Caruso, que desenha com uma facilidade assombrosa.

Você não vê mais graça em desenhar?

LC: Praticamente não vejo. Desenhar se tornou penoso, difícil. Mal começo um trabalho, percebo que estou me dedicando àquela tarefa apenas porque necessito cumprir prazos ou pelo simples fato de que já a incorporei no meu cotidiano. Fugir da burocracia virou o xis da questão. Descobrir rumos novos, prazeres diferentes… Há tardes em que travo e fico horas sem arriscar um mísero esboço, inteiramente refém da autocrítica. Não me agradam os motes que escolho para as tirinhas, o desenvolvimento das tramas, a redação dos textos, o jeito como lido com as cores, a plasticidade do meu traço. Por outro lado, também não me agrada a perspectiva de largar tudo e me refugiar numa ilha deserta, folgadão. Não pretendo me aposentar. O que desejo é me reinventar.

Quando a crise eclodiu?

LC: As primeiras insatisfações surgiram em 2001 ou 2002, no vácuo de uma tempestade maior que causara o fim do meu terceiro e último casamento. Pouco depois, em 2004, o incômodo cresceu e resolvi abdicar de vários elementos que marcavam minha trajetória. Abandonei personagens famosos, como o Overman, os Gatos e os Piratas do Tietê, certo tipo de humor, menos sutil, e a preocupação com a linearidade das histórias. Iniciei, ali, uma fase mais "filosófica", que muitos intitulam de nonsense e que ainda me caracteriza. Uma parcela dos jornais que divulgavam os meus quadrinhos estranhou a reviravolta e acabou me dispensando - caso do gaúcho Zero Hora e do capixaba A Tribuna. Reclamavam de um hermetismo excessivo, de uma obscuridade que atrapalharia a fruição do público. Evidente que não concordo. Rejeito, inclusive, o adjetivo nonsense para definir o meu trabalho. Nonsense pressupõe o caos, a ausência total de significado. Ocorre que minhas tiras buscam, sim, um sentido - mesmo que seja o de aplicar um golpe na lógica, o de implodir o senso comum. Discussões semânticas à parte, noto que a trilha inaugurada em 2004 vai se fechando. Preciso, no fundo, me reconectar com o adolescente atrevido que, 45 anos atrás, ingressou num curso livre de desenho e pintura doido para se expressar. Preciso reencontrar a chave daquela inquietação, daquele frescor, daquela ousadia.

Envelhecer o deprime?

LC: Não, mas me assusta. Nunca almejei a longevidade e sempre achei que morreria cedo. Por isso, não me angustio quando lembro que completarei 60 anos em 2011. Penso que dei sorte, que estou no lucro. (risos) O que me espanta é a rapidez do tempo - a ligeireza com que os dias voam depois que passamos dos 40. Uma rapidez estonteante, que se associa à falta de produtividade. Para um garoto, 12 meses fazem uma diferença brutal. Quantas coisas se modificam num intervalo tão pequeno! Já para um cinquentão, 12 meses normalmente não representam nada. Tudo permanece idêntico.

Recém-lançada, a coletânea Muchacha leva o nome da cantora e dançarina que o ator gay Djalma interpreta na trama. Ele se traveste. Você, à semelhança de Djalma, está usando brincos e um corte de cabelo bem femininos. Também aprecia o guarda-roupa das mulheres?

LC: Também. É uma descoberta nova, uma predileção que se insinua há séculos, mas que se manifestou com todas as letras apenas em 2009. Cinco anos antes, um dos meus personagens, o Hugo (veja acima), decidiu "se montar". Não sei exatamente por quê. Só sei que, de uma hora para outra, arranjou vestido, batom, salto alto e se jogou no mundo. Desde que nasceu, o Hugo se porta como um alter ego do Laerte. Ele costuma assumir nos quadrinhos grilos e desejos que se confundem com os meus. O fato de imitar o visual das mulheres certamente denunciava algo sobre mim - sobre ambições que eu me negava a explorar às claras. Foi quando recebi o e-mail de uma arquiteta, fã do Hugo. Quer dizer: de um arquiteto que abraçou a identidade feminina. O sujeito me perguntava se ouvira falar dos crossdressers, pessoas que gostam de botar roupas ou adereços do sexo oposto. Na época, não dei muita bola. Mas em 2009, por causa do aguçamento de minhas neuras existenciais, procurei um clube de crossdressers, frequentei reuniões organizadas pelo grupo e li a respeito do assunto. Depois, lentamente, agreguei enfeites femininos à indumentária masculina - brincos, colares, unhas pintadas. Hoje, dependendo da ocasião, me visto como mulher dos pés à cabeça, mesmo em lugares públicos, onde acabo passando despercebido. Outras vezes, ponho somente uma bijuteria, um esmalte. De início, meus filhos, minha namorada e meus amigos chiaram. Agora, já se acostumaram. Ou quase. (risos)

O que você sente quando se traveste?

LC: Um prazer indescritível, que nunca cogitei sentir. Recorrendo à prática, não planejo mudar de gênero definitivamente nem colocar em xeque a minha bissexualidade. O crossdressing, no meu caso, se refere menos à atividade sexual e mais à transposição de limites. É uma necessidade imperiosa de perscrutar e vivenciar os códigos femininos. Há ocidentais que se deleitam em investigar o Oriente. Experimentam comidas exóticas, fazem ioga, visitam a China. Da mesma maneira, por que um homem não pode empreender uma viagem radical pelo planeta insondável das mulheres?

Em 2005, você perdeu um de seus três filhos num acidente de carro. A crise atual tem alguma relação com a morte dele?

LC: Creio que sim. O desaparecimento repentino do Diogo, aos 22 anos, me abalou terrivelmente. Fiquei um mês mergulhado na absoluta incapacidade de desenhar. Quando retomei o trabalho, as dúvidas que me conduziram à guinada conceitual de 2004 recrudesceram. O entendimento de que um ciclo terminara se mostrou claríssimo. Desde então, vivo sem bússola, um tanto desnorteado. Ou melhor: existe um norte, só que é um norte débil, inseguro, mutante. Uma vertigem contínua. A perda do Diogo retirou o véu de tudo. Relativizou ainda mais quaisquer certezas, desnudou as minhas fragilidades e, paradoxalmente, revelou as minhas forças - ha medida em que toda fragilidade demanda uma força como resposta. Mas, na contramão do que parece, não extraí mensagens edificantes do episódio. A morte não nos traz lição nenhuma. É o desconhecimento pleno, um vazio que não se contenta com as justificativas da política, da sociologia, do direito, da psicanálise, da antropologia. Pegue o fim trágico do Glauco... (Glauco Villas Boas, cartunista e amigo de Laerte, assassinado em março junto do filho, Raoni, por um adepto da Igreja Céu de Maria). O que explica uma barbárie daquela? "Ah, como lideravam um culto religioso que ministra o santo-daime, Glauco e Raoni atraíram um punhado de malucos..." Será mesmo? Para mim, não importa! Nada esclarecerá o mistério de por que alguns partem do modo cruel como os dois partiram. Havia realmente necessidade daquilo? Daquele Armagedon doméstico? Do horror imensurável? Um pai presenciar a execução do próprio filho e depois morrer? (Fonte: Armando Antenore - Revista Bravo - set.2010).


Laerte Coutinho (São Paulo, 10 de junho de 1951) é um dos principais quadrinistas do Brasil.Estudou comunicações e música na ECA-USP, porém não se formou nestes cursos.
Laerte participou de diversas publicações como a Balão e O Pasquim. Também colaborou com as revistas Veja e Isto é e os jornais Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo. Criou diversos personagens, como os Piratas do Tietê e Overman. Em conjunto com Angeli e Glauco (e mais tarde Adão Iturrusgarai) desenhou as tiras de Los Três Amigos. Em 2005, perdeu um de seus três filhos, Diogo, então com 22 anos, num acidente de carro. Nos últimos anos, passou a chamar a atenção pelo abandono de seus personagens e pela prática do crossdressing.
Em 2012, teve a residência roubada, e muitas de suas obras que estavam digitalizadas também foram levadas.
 Em 1968 Laerte concluiu o Curso Livre de Desenho da Fundação Armando Álvares Penteado. Em 1969 começou a cursar jornalismo na Universidade de São Paulo, mas não chegou a concluir o curso.Começou profissionalmente desenhando o personagem Leão para a revista Sibila em 1970. Durante a década de 70 ele ainda fundou junto com Luiz Gê a revista Balão enquanto ainda estudava na ECA, e trabalhou nas revistas Banas e Placar. Em 1974 faz seu primeiro trabalho para um jornal, a Gazeta Mercantil. No mesmo ano começou a produzir material de campanha para o MDB durante as eleições. No ano seguinte trabalhou na produção de cartões de solidariedade no movimento de auxílio aos presos políticos. Em 1978 desenhou histórias do personagem João Ferrador para a publicação do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Mais tarde viria a fundar a Oboré, agência especializada em produzir material de comunicação para os sindicatos. A editora publicou seu livro Ilustração sindical (1986), com mil ilustrações, quadrinhos e caricaturas, liberado para utilização por sindicatos e outras entidades. Laerte fez cobertura jornalística de três copas: a de 78 (para o jornal O Estado de São Paulo), a de 82 (para a Folha de São Paulo) e a de 86 (para O Estado de São Paulo).
No fim da década de 80 publicou tiras e histórias em quadrinhos nas revistas Chiclete com Banana (editada por Angeli), Geraldão (editada por Glauco) e Circo, todas da Circo Editorial, que mais tarde lançaria sua própria revista (Piratas do Tietê). Em 1985 lançou seu primeiro livro, O Tamanho da Coisa, uma coletânea de suas charges.
Em 1991 a Folha de São Paulo começou a publicar as tiras de Piratas do Tietê.
Regularmente o artista lança álbuns com coletâneas de suas tiras, principalmente pela Devir Livraria e L&PM Pocket.
Em 2009, Laerte foi convidado para participar do álbum MSP 50 em homenagem aos 50 anos de carreira de Mauricio de Sousa. Laerte criou uma história protagonizada por Franjinha e seu cachorro Bidu.
Laerte atuou como roteirista na TV, tendo colaborado em diversos programas da Globo. Escreveu scripts para os programas humorísticos TV Pirata e para as primeiras temporadas de Sai de Baixo. Ainda na área de humor escreveu para o quadro Vida ao Vivo que ia ao ar durante o Fantástico, em 1997.
Laerte também escreveu o programa infantil TV Colosso e o script de cinema para Super-Colosso: A Gincana da TV Colosso.
Estes são alguns personagens conhecidos de Laerte, sobretudo por suas tiras publicadas em jornais:
 Overman - um super-herói que talvez tenha a força do Super-Homem mas com certeza não possui a capacidade de dedução de Batman. Por vezes mostra ter moral e hábitos retrógrados. Seu maior inimigo é o próprio ego. Seu visual lembra Space Ghost, que já apareceu como convidado em algumas tiras.
 Deus - na representação de Laerte, com certeza não é onipotente. Tudo o que para nós é metafísico não passa de mera rotina para Ele. O que não quer dizer, no entanto, que tudo corra as mil maravilhas. Agora que o mundo e a humanidade já estão criados, Ele gasta a maior parte do tempo em afazeres menores, como discutir com o arcanjo Gabriel e jogar cartas com Buda.
 Piratas do Tietê - esses piratas trocaram o mar pelo não menos perigoso rio que corta a cidade de São Paulo. Hoje em dia a cidade é o alvo de seus saques e matanças.
 Hugo Baracchini - a visão cômica de Laerte do homem dos tempos modernos. Nele o autor criou uma eterna vítima dos problemas contemporâneos: ele já teve problemas em operar seu computador, teve de fugir de paparazzi, ficou complexado com o tamanho de seu pênis e chegou a sentir saudades do Regime Militar.
 Suriá - personagem de Laerte voltada para o público infantil. Suriá é uma menina de 9 anos, que mora com a família em um circo (onde trabalha como trapezista). É uma das raras personagens negras de histórias em quadrinhos.(Wikipédia)

  

quinta-feira, junho 28

* A roda dos expostos e excluídos



A “Roda”

Algumas atividades da Santa Casa de Misericórdia merecem um capítulo à parte, em virtude da importância de que se revestem por suas conotações históricas, culturais e médico-hospitalares de São Paulo e do Brasil.
Começamos por assinalar a “Roda dos Expostos ou Excluídos”, de origem italiana ou portuguesa, que terá sido instalada no Rio de Janeiro, seguindo-se as da Bahia e de São Paulo, onde funcionou desde 2 de Julho de 1825 até 5 de Junho de 1950. A Roda de São Paulo está hoje no Museu da Santa Casa paulistana trata-se de uma autêntica “roda”, de forma cilíndrica, que girava sobre um eixo: a criança era colocada no cilindro, que rodava para dentro. O entregador tocava uma campainha e uma das caridosas freiras vinha recolher o bebê e providenciava a sua internação, lavando-a e alimentando-a - em resumo, o menino ou a menina eram criados pelas religiosas, até que, na idade adequada, a criança era confiada ao Asylo Sampaio Viana, que ficava no Pacaembu, e posteriormente encaminhada ao Colégio de São José, mantido pela Santa Casa. Depois de alfabetização, o exposto aprendia uma profissão, aprendiam a falar em francês e latim, até que pudesse viver do seu trabalho.
Alguns meninos ou meninas, educados tão cristãmente, conseguiram chegar à Universidade e muitos deles ocuparam situações profissionais de alto nível na sociedade. Era humilde e desconhecida a sua origem, a infância e a adolescência ficou registrada apenas nos seus cadernos escolares, o que reforça ainda mais o sentido social da obra verdadeiramente misericordiosa. O mundo evoluiu, a “roda” pertence ao passado, mas aqueles que a serviram revelaram-se bem mais solidários com as crianças do tempo do que certos que hoje trabalham nas instituições oficiais com a obrigação de cuidar dos meninos e meninas abandonados.
Entre as histórias que mais parecem contos de fada do que as realidades de ontem, as histórias da “roda” ainda são por vezes lembradas por aqueles que as escutaram de seus pais e avós – e por este modo se explica que a roda dos expostos seja uma das “peças” que maior curiosidade despertam entre os visitantes do Museu da Santa Casa Bandeirante.(fonte-santacasa.org.br)

A imagem mostrada acima:
RODA DOS EXPOSTOS: Esta peça é um cilindro oco, confeccionada em madeira de Pinho de Riga, que girava em seu eixo, colocada em muros e com uma abertura voltada para a rua. É considerado o objeto de maior importância do museu da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. No centro do pedestal estão os livros com os registros das crianças e das amas contratadas e encarregadas da amamentação.
Rodas de bebês rejeitados ressurgem na Europa

Um sistema comum na Idade Média para abandonar filhos indesejados ressurgiu com força na Europa nos últimos dez anos, mas com nova roupagem.
Diferente das rodas de bebês rejeitados de outros séculos, o equipamento moderno difere dos cilindros de madeira instalados em paredes de conventos ou igrejas medievais.
Nos equipamentos antigos os bebês indesejados eram depositados pela parte de fora e depois girados para dentro dos estabelecimentos.




Embora tenha a mesma finalidade, o novo sistema consiste em uma espécie de berço aquecido, monitorado por enfermeiras e disposto em locais próximos a hospitais com fácil acesso da população.
A prática, entretanto, continua sendo duramente criticada pela ONU, uma vez que violaria os direitos das crianças.
Em Berlim, por exemplo, uma placa localizada ao final de uma rua de um bairro tranquilo chama atenção de moradores e visitantes, apontando para um caminho entre as árvores.




Na placa, lê-se a seguinte mensagem "Babywiege" (berço).
No final deste caminho, há uma escotilha de aço com uma alça. Dentro dela, uma espécie de berço, com cobertores para acomodar o recém-nascido, possivelmente indesejado pela família.
O local é seguro e a temperatura ideal para um bebê. Há também uma carta deixada pelos responsáveis pela instalação do berço, caso o depositante se arrependa de sua decisão e queira a criança de volta.
Duas vezes por ano, alguém - possivelmente uma mulher - percorre tal trajeto até os fundos do Hospital Walfriede.
Para fontes ligadas ao tema, trata-se, normalmente, de um caminho sem volta. A criança indesejada crescerá sem nunca conhecer a mãe.
O processo é anônimo, ou seja, não se conhece a identidade do depositante, por mais que tal prática seja mais comum entre as mães.
Mas é justamente este argumento - o de confidencialidade - que é criticado por quem condena a iniciativa.
Crítica- Críticos afirmam que a roda pode ser usada por pais inescrupulosos ou até cafetões para pressionar as mães a abandonar seus bebês.
"Estudos na Hungria mostram que não são necessariamente as mães que depositam seus filhos nessas caixas, mas, por outro lado, parentes, cafetões, padrastos e até mesmo os pais biológicos", disse em entrevista à BBC Kevin Browne, da Universidade de Nottingham. 
Funcionamento da "roda" moderna é similar à medieval; bebê é depositado dentro da escotilha.
"Como o processo é realizado no anonimato e não inclui qualquer aconselhamento psicológico à mãe, cria um precedente perigoso tanto para a mulher como para a criança", acrescentou.
Para o estudioso, ao facilitar o processo de abandono de um bebê, as mães ficam menos suscetíveis a receber a ajuda necessária em uma situação de grande trauma emocional e, até mesmo, de risco para sua saúde.
Não há consenso, contudo, sobre o argumento levantado por Browne. Partidários da medida afirmam que estão oferecendo a mães desesperadas uma maneira segura de abandonar filhos indesejados.
Recentemente, uma mãe alemã foi condenada por atirar seu filho recém-nascido da janela do quinto andar de um edifício.
Crescimento- Situações como essa impulsionaram a prática da "roda" moderna na Europa Central e Oriental, desde os países bálticos, passando por Alemanha, Áustria, Polônia, Hungria, República Tcheca até a Romênia.
A lei de alguns desses países encoraja o sistema. Na Hungria, por exemplo, a legislação foi alterada para permitir que a iniciativa fosse considerada legal, nos mesmos padrões da adoção, enquanto que o abandono de um recém-nascido continua sendo considerado crime.
Kevin Browne, da Universidade de Nothingham, acredita que a tendência de crescimento é maior em países com passado comunista ou majoritariamente católicos, onde o estigma da mãe solteira ainda é muito forte.
Caixas para o abandono de bebês por país.
Alemanha – 99, Polônia – 45, República Tcheca – 44, Hungria – 26, Eslováquia – 16, Lituânia – 8, Itália - 8, Bélgica – 1, Holanda - 1, Suíça – 1, Vaticano – 1, Canadá – 1, Malásia – 1.
 Fonte: Comitê dos Direitos das Crianças das Nações Unidas
Para Gabriele Stangl, do Hospital Waldfriede em Berlim, que recebe dezenas de recém-nascidos por ano, a prática moderna da "roda" salva vidas, e, diferentemente do que pensa Browne, também aumenta os direitos das crianças.
Segundo ela, o sistema conta com todas as facilidades de uma maternidade comum. Uma vez que o bebê é depositado no berço improvisado, um alarme soa e uma equipe de médicos chega para checar o estado de saúde do recém-nascido.
A criança, então, é tratada no hospital e nutrida até ser encaminhada ao sistema legal de adoção. Neste período inicial, as mães têm o direito de buscarem de volta seus filhos caso se arrependam. Porém, uma vez feita a adoção, não há mais recurso.
Arrependimento- Não são raros os casos das mães que decidem voltar atrás em sua decisão. Uma delas contou à BBC que, como engravidou muito jovem e não tinha o apoio do pai da criança, ficou em estado de choque após o nascimento e decidiu colocar o filho na "roda". Ela, entretanto, se arrependeu uma semana depois.
Em uma única "roda" em Hamburgo, no norte da Alemanha, 42 bebês foram abandonados na última década. Desse montante, 17 mães contataram os organizadores e 14 buscaram de volta seus filhos.

"Em 1999, cinco bebês foram abandonados na cidade e três deles morreram", disse Steffanie Wolpert, uma das fundadoras do sistema de Hamburgo. "Então, nós pensamos em um jeito de contornar essa situação e permitir a sobrevivência dessas crianças", acrescentou.

Mas os críticos, como o Comitê das Nações Unidas para os Direitos das Crianças, não estão convencidos dos benefícios do sistema. Eles alegam que a iniciativa é um retrocesso às práticas medievais.

Segundo Maria Herczog, uma psicóloga infantil que integra o comitê, uma alternativa mais eficiente à "roda" moderna seria entender e ajudar as mães em circunstâncias difíceis.

"Essa prática envia uma mensagem errada às mulheres de que têm o direito de continuar escondendo a gravidez, dando a luz em circunstâncias pouco conhecidas e abandonando seus bebês", disse Herczog.(fonte-BBC News Berlim).



Esse é um assunto pra ser visto com todo cuidado em tempos em que crianças indesejadas são mortas e abandonadas por suas mães e famílias.



quarta-feira, junho 27

* A sabedoria (?) dos ditos populares





A Sabedoria dos Ditados
O ser humano começa a amadurecer quando toma consciência das próprias limitações. Muitas pessoas morrem com idade avançada, mas nem todas morrem com espírito jovem. O ser humano é limitado, e as coisas que o cercam também! Uma das limitações humanas é a linguagem. E os problemas de comunicação aparecem, queiramos ou não.
O que há em comum então entre os homens? Qual o denominador comum? Enxergamos limites distintos nas pessoas..., mas elas continuam sendo pessoas! Segundo Boécio (sec.V) a pessoa é uma substância individual de natureza racional. Tudo o que diz respeito a natureza humana, é comum a todos. Nem por isso, perdemos nossa individualidade; somos responsáveis pelos nossos atos, e não podemos desfazê-los. O falar, o escrever, são atos humanos.
A sociabilidade do homem, não exclui sua individualidade. A sociedade continuará existindo, independente de nós; e existem certos princípios que valem para todos os homens. Estes princípios, que fazem parte da cultura, são valores transmitidos de geração em geração, de pais para filhos, e correspondem ao mundo real, e à verdade das coisas. Por este motivo são perenes e universais, contrapondo aos chavões, próprios de algum lugar, ou limitados no tempo.
Os ditados, ou "...sentenças do ocidente medieval e da tradição árabe (amthal) são totalmente distintos dos sentenciários contemporâneos, veiculados por livros folhinha, livros-agenda e demais pílulas de otimismo, reflexão em gotas, etc ... Sentenças hoje, sentenças dos antigos. Há porém, uma decisiva diferença entre nosso pensamento minimalista e a sabedoria dos antigos: nós estamos voltados somente para o interessante; eles, para a verdade das coisas." (Lauand, 1994.) 
Por estes motivos - o da universalidade e o da perenidade -, vale a pena recordar alguns ditados populares, que irão enriquecer o nosso cotidiano, e poderão contribuir para simplificar as nossas relações sociais, ou mesmo o viver.
Um primeiro exemplo vem de Tomás de Aquino (1225-1274) São sentenças usadas em seus escritos, ou cunhadas por ele próprio. Deste modo, verificamos que muito do que dizemos hoje, já era lugar-comum há alguns séculos, o que reforça sua perenidade e universalidade.
 
1. "O poder mostra o que o homem é" 
2. "Cada qual com seu igual" 
3. "Para frente é que se anda" 

4. "Uma andorinha só não faz verão" 
5. "Ler e não entender é negligenciar"
6. "Quem diz as verdades, perde as amizades"
7. "A verdade gera o ódio"
8. "Sou homem e tudo o que é humano me diz respeito" (Terêncio) 
Também para a tradição ocidental, os ditados e sentenças de origem latina representam um tesouro cultural. Fumagalli (1955) recolheu 2948 "sentenze proverbi motti divise frasi e locuzioni latine", e alguns, que dizem respeito particularmente ao homem, podem ser recordados. 
1. Homo est animal bipes sine pennis (Platão)  - "O homem é um animal bípede sem penas". 
2. Homo est animal bipes rationale (Boecio) - "O homem é um animal bípede racional". 
3. Homo de humo (S. Bernardo) - "O homem é feito da terra".
4. Homo proponit, sed Deus disponit (Tomás de Kempis) - "O homem propõe e Deus dispõe". 
É curioso notar a perenidade destes ditados, pois "O homem propõe e Deus dispõe" foi escrito por um europeu que nasceu em 1380; Boécio era do sec. V; S. Bernardo (1090-1153) e Platão (427-349 a.C.). E com certeza já escutamos de algum familiar um destes dizeres. O conhecido provérbio "Mais vale um pássaro na mão, do que dois voando" é de origem árabe, e foi usado na França medieval. (Hanania, 1995.) e o "Antes só do que mal acompanhado" ("Mejor sería andar solo que mal acompañado") já era usado em 1335 na Espanha. (Fujikura, 1995.)
Os provérbios chineses tem uma característica muito peculiar: são compostos de quatro ideogramas e, segundo Horta (1997), "Trata-se de um máximo de informação em um mínimo de espaço." Estes provérbios são tidos também como um "tesouro, revelando estruturas universais da vida..."
1. Chi Ren Shuo Meng (Idiota Pessoa Falar Sonho) - - Usado quando alguém diz algo absurdo. 
2. Yu Su Bu Da (Desejo Velocidade Não Sucesso) -  Semelhante ao provérbio "A pressa é inimiga da perfeição". 
3. Hua Er Bu Shi (Flor mas não fruto) - - Para pessoas que tem uma aparência, mas não conteúdo. 
4. Fu Shui Nan Shou (Derramar Água Difícil Coletar) - - Em nosso meio, diríamos: "Não adianta chorar o leite derramado".
5. Dui Niu Tan Qin (Conforme Vaca Tocar Alaúde) - Ou seja "Não jogue pérola aos porcos". 
Apesar de notarmos que algumas sentenças e provérbios descritos anteriormente utilizam as características dos animais domésticos para fazer alguma analogia com o homem, vale a pena recordar outros, amplamente utilizados em nosso meio.  

1. Não coloque o carro na frente dos bois. 
2. Você levou gato por lebre. 
3. Caiu do cavalo. 
4. Montou no porco.
5. Cacarejar e não botar ovos.

6. Quem se faz de cordeiro será comido pelo lobo.
7. Quem não tem cão, caça com gato.
8. Macaco que muito pula quer chumbo.
9. Macaco velho não mete a mão em cumbuca.
10. Filho de peixe, peixinho é.

11. Quem quebra o galho é macaco gordo.
12. Animal que urina para trás, coloca o dono para frente.
13. Passarinho que come pedra sabe o ânus que tem.
14. Cão que ladra não morde.

15. A cobra vai fumar.
16. Cada macaco no seu galho.
17. Cutucar a onça com a vara curta.
18. Lobo com pele de cordeiro.

19. Ovelha negra da família.
20. Chutar cachorro morto é fácil.
21. Não cortar a pata do burro por um único coice.
22. Matar dois coelhos com uma cajadada só.

23. A cavalo dado não se olha os dentes.

24. Gato escaldado tem medo de água fria.
25. Os cães ladram e caravana passa.


26. Não jogar pérola aos porcos.
27. Quando o gato sai, os ratos fazem a festa.
28. Focinho de porco não é tomada.
29. Em rio com piranha, jacaré nada de costas.

30. Jacaré que fica parado vira bolsa.
31. Está na hora da onça beber água.
32. Um dia é o da caça, outro do caçador.
33. Não chame o papagaio de meu louro.
34. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.


35. Fez do lobo o guardião de ovelhas.
Como se pode observar, as palavras ganham força, quando se adequam a realidade, quando dizem respeito ao ser humano e a sua natureza. Recordar os ditados, sentenças, provérbios de diferentes origens e épocas históricas, reforça a tese de que são universais e perenes; e que podem ser aplicados no dia-a-dia para simplificar a vida, retratar uma realidade, ou até mesmo ajudar, com bom humor, um amigo a (re)ver algo.” (Rogério Lacaz-Ruiz)

OBS: Use com moderação, faça uso da inteligência antes de acreditar em pré conceitos, generalizações e similares.


 

terça-feira, junho 26

* Navegar é preciso, viver não é preciso...



Todo ano no verão, recupero o velho sonho de morar na praia, abrir um quiosque, atender turistas, respirar o iodo do mar, me queimar ao sol do verão.
Todo mês de junho, recupero um velho desejo de ver a festa do sol em Cuzco no Peru e me pergunto por que ainda não realizei desejos tão simples...rss

Gosto do inverno!

O prazer do vento frio no rosto
O café quente, amargo e forte
O sol tímido e consolador
O esforço para sair dos edredons
A água quente escorrendo pelo corpo
Os pés quando aquecem
As mãos quando aquecem
O nariz sempre frio
O abraço de quem se gosta

O reencontro com velhos casacos quentinhos
A redescoberta das botas
A velha meia verde de lã, companheira de muitos invernos

O intimismo, o aconchego, a retomada de hábitos antigos
O chocolate quente “naquela” cafeteria
Talvez por ter nascido no inverno, eu sinto a estação sempre como um recomeço