quarta-feira, dezembro 2

* Sonhar é preciso! Arregaçar as mangas também!



Nasce filha de Mark Zuckerberg, CEO do Facebook

 
O bebê do CEO do Facebook com a médica Priscila Chan veio ao mundo nesta terça-feira (1) e o pai escreveu uma carta para a pequena. Ele anunciou que vai doar 99% das ações da empresa para projeto de "tornar o mundo melhor"
 

Mark Zuckerberg anunciou, no início da noite desta terça-feira (1), o nascimento de sua primeira filha,  Max. A notícia, é claro, foi revelada para os seguidores do pai no Facebook. "Priscilla e eu estamos tão felizes por poder dar as boas-vindas à nossa filha, Max, ao mundo!", escreveu. "Para o nascimento, escrevemos uma carta para ela sobre o mundo no qual esperamos que ela cresça", continuou. "É um mundo onde nossa geração pode avançar no potencial humano e promover igualdade - para curar doenças, personalizar o aprendizado, usando energia conectando as pessoas, construindo comunidades fortes, reduzindo a pobreza, providenciando direitos iguais e espalhando a compreensão entre as nações".

 Ele ainda anunciou: "Vamos doar 99% das ações do Facebook, atualmente no valor de US$ 45 bilhões - durante as nossas vidas para nos juntar a muitos outros na missão de melhorar este mundo para a próxima geração". 

 "Obrigada a todos vocês nessa comunidade por todo o amor e apoio durante a gestação. Vocês têm nos dado esperança de que, juntos, podemos construir esse mundo para Max e para todas as crianças", completou. 

Veja a tradução na íntegra: 

"Querida Max, 

Sua mãe e eu ainda não temos palavras para descrever a esperança que você nos dá para o futuro. Sua nova vida será cheia de promessas, e nós esperamos que você seja feliz e saudável para poder aproveitá-la inteiramente. Você já nos deu uma razão para pensar no mundo no qual esperamos que você viva.
Como todos os pais, nós queremos que você cresça em uma mundo melhor que o nosso hoje.
 Enquanto as manchetes com frequência focam em tudo o que está errado, de muitas maneiras o mundo tem se tornado um ligar melhor. A saúde está melhorando. A pobreza está diminuindo. O conhecimento está crescendo. Pessoas estão se conectando. O progresso tecnológico em todos os campos significa que a sua vida será drasticamente melhor do que a nossa hoje.
Nós faremos a nossa parte para que isso aconteça, não apenas porque nós amamos você, mas também porque temos responsabilidade moral com todas as crianças da próxima geração.
 Nós acreditamos que todas as vidas têm o mesmo valor, e isso inclui o fato de que muitas pessoas mais vão viver nas futuras gerações do que vivem hoje. Nossa sociedade tem obrigação de investir agora para melhorar as vidas de todos os que chegarão a este mundo, não apenas dos que já estão aqui.
Mas agora, nós não sempre direcionamos coletivamente nossos recursos para as maiores oportunidades e problemas que a sua geração vai enfrentar.
Considere a doença. Hoje nós gastamos mais de 50 vezes mais como uma sociedade que trata as pessoas que estão doentes do que investimos em pesquisa para prevenir que as pessoas fiquem doentes em primeiro lugar.
A medicina só é uma ciência real há menos de 100 anos, e nós já vimos curas completas para muitas doenças e bom progresso para outras. Conforme a tecnologia avança, temos uma grande chance na prevenção, na cura e no gerenciamento da grande maioria (das doenças) para os próximos 100 anos.
Hoje, a maioria das pessoas morre de cinco coisas – doenças cardíacas, câncer, derrame, doenças neuro degenerativas e infecciosas – e nós podemos fazer um progresso mais rápido para esses e outros problemas.
Uma vez que nós reconheçamos que nossa geração e a geração dos nossos filhos talvez não tenha que sofrer com doenças, temos coletivamente a responsabilidade de direcionar nosso investimentos um pouco mais na direção de fazer com que isto se torne uma realidade. Sua mãe e eu queremos fazer a nossa parte.
Curar doenças leva tempo. Durante curtos períodos de 5 ou 10 anos, pode parecer que não estamos fazendo muita diferença. Mas em longo prazo, as sementes plantadas agora vão crescer, e um dia, você e seus filhos vão ver aquilo que por enquanto só podemos imaginar: um mundo que não sofre com doenças.
Há tantas oportunidades como esta. Se a sociedade focar mais de sua energia nesses grandes desafios, deixaremos nossa geração com um mundo melhor. 
***
Nossas esperanças para a sua geração são focadas em duas ideias: avançar o potencial humano e promover igualdade.
Avançar o potencial humano é sobre forçar nossos limites para o quão grande a vida humana pode ser.
Você pode aprender e experimentar 100 vezes mais do que fazemos hoje?
 Nossa geração pode curar doenças para que você viva por mais tempo e com mais saúde?
Podemos conectar o mundo para que você tenha acesso a cada ideia, pessoa e oportunidade?
Podemos usar mais energia limpa para que possamos inventar coisas que não podemos imaginar hoje, enquanto protegemos o meio-ambiente?
Podemos cultivar o empreendedorismo para que possamos construir qualquer negócio e resolver qualquer desafio para cultivar a paz e a prosperidade?
Promover igualdade é sobre ter certeza de que todo tenha acesso a todas essas oportunidades - independente da nação, das famílias e das circunstâncias em que as pessoas nasceram.
Nossa sociedade deve fazer isso não apenas por justiça ou caridade, mas pela grandeza do progresso humano.
Hoje somos privados do potencial que tantos têm a oferecer. O único jeito de alcançar nosso potencial por completo é sintonizar os talentos, ideias e contribuições de cada pessoa no mundo.
Nossa geração pode eliminar a pobreza e a fome?
Podemos prover a fotos com cuidados básicos com a saúde?
Podemos construir comunidades inclusivas e acolhedoras?
Podemos nutrir relações pacíficas e compreensivas entre as pessoas de todas as nações?
Podemos de verdade empoderar a todos - mulheres, crianças, minorias sem representação, imigrantes e os desconectados?
Se a nossa geração fizer os investimentos certos, a resposta para cada uma dessas perguntas pode ser "sim" - e tomara que isso aconteça dentro do seu tempo de vida.
***
Essa missão - avançar no potencial humano e promover igualdade - vai exigir uma nova aproximação para todos que trabalham em prol dessas metas.
Devemos fazer investimentos a longo prazo, para mais de 25, 50 ou até 100 anos. Os maiores desafios requerem horizontes de um tempo muito longo e não podem ser resolvidos se pensarmos a curto prazo.
Devemos nos engajar diretamente com as pessoas a que servimos. Não podemos empoderar as pessoas, se não entendermos diretamente as necessidades e os desejos de suas comunidades.
Nós devemos construir tecnologia para fazer mudanças. Muitas instituições investem dinheiro nesses desafios, mas a maior parte do progresso vem dos ganhos de produtividade por meio da inovação.
Devemos participar da política e da advocacia para dar forma aos debates. Muitas instituições não querem fazer isso, mas o progresso deve ser apoiado por movimentos para ser sustentável.
Devemos apoiar os mais fortes e independentes líderes em cada campo. Formar parcerias com especialistas é mais efetivo para a missão do que tentar liderar os esforços por nós mesmos.
Devemos nos arriscar hoje para aprender lições amanhã. Estamos adiantados no nosso aprendizado e muitas coisas que tentamos não vão funcionar, mas nós escutaremos e aprenderemos e continuaremos melhorando.
***
Nossa experiência com o aprendizado personalizado, o acesso à internet e a educação e saúde comunitárias deu forma à nossa filosofia.
Nossa geração cresceu em salas de aula onde todos nós aprendíamos as mesmas coisas no mesmo ritmo independente de nossos interesses e necessidades.
Sua geração vai estabelecer objetivos para o que você quiser se tornar – como um engenheiro, um trabalhador da saúde, um professor ou um líder comunitário. Você terá tecnologias que entenderão como você aprende melhor e onde você precisa focar. Você avançará rápido nas matérias que lhe interessarem mais, e receberá ajuda naquelas que forem mais desafiadoras. Você explorará tópicos que nem são oferecidos nas escolas hoje. Seus professores também terão ferramentas melhores e dados para ajudá-lo a alcançar seus objetivos.
Ainda melhor, estudantes ao redor do mundo poderão usar ferramentas de aprendizagem personalizadas pela internet, ainda que eles não vivam perto de boas escolas. É claro que será preciso mais do que tecnologia para dar a cada pessoa um começo da vida justo, mas o ensino personalizado será uma maneira acessível de dar a todas as crianças uma melhor educação e mais igualdade de oportunidades.
Estamos começando a construir essa Tecnologia agora, e os resultados já são promissores. Os alunos não apenas têm um desempenho melhor nas provas, mas também ganham habilidades e confiança para aprender tudo o que quiserem. E essa jornada é só o começo. A Tecnologia e o ensino vão melhorar rapidamente a cada ano que você estiver na escola.
Sua mãe e eu ensinamos alguns estudantes e vimos o que é preciso para fazer isso funcionar.
Será preciso trabalhar com os líderes mais fortes da educação para ajudar as escolas ao redor do mundo a adotarem o ensino personalizado. Será preciso do engajamento com as comunidades, por isso é que estamos começando na nossa comunidade de San Francisco Bay Area. Será preciso construir novas tecnologias e tentar ideias novas. E será preciso cometer erros e aprender muitas lições antes de alcançar esses resultados.
Mas uma vez que a gente entenda o mundo que podemos criar para a sua geração, temos a responsabilidade como sociedade em focar nossos investimentos no future para que isso se torne realidade.
Juntos, nós podemos fazer isso. E quando nós fizermos, o ensino personalizado não vai só ajudar alunos de boas escolas, mas vai ajudar a proporcionar mais igualdade de oportunidade para qualquer pessoa que tenha acesso à internet.
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Muitas das melhores oportunidades para a sua geração virão ao oferecer a todos acesso à internet.
As pessoas sempre pensam na internet como algo a ser usado apenas para entretenimento ou para a comunicação. No entanto, para a maioria das pessoas no mundo, a internet pode ser um salva-vidas.
Ela oferece educação se você não mora perto de uma boa escola. Ela oferece informação de saúde sobre como evitar doenças ou criar crianças saudáveis se você não mora perto de um médico. Ela oferece serviços financeiros se você não mora perto de um banco. Ela oferece acesso aos nossos trabalhos e oportunidades se você não vive em uma boa economia.
A internet é tão importante que, para cada dez pessoas que ganham acesso a internet, uma emerge da pobreza e um novo emprego é criado.
Ainda assim, mais da metade da população mundial - mais de 4 bilhões de pessoas - não têm acesso à internet.
Se a nossa geração os conectar, podemos tirar centenas de milhões de pessoas da pobreza. Também podemos ajudar centenas de milhões de crianças a conseguirem uma educação e salvar milhões de vidas ajudando as pessoas a evitarem doenças.
Este é outro esforço a longo prazo que pode ser avançado com a tecnologia e com as parcerias. Vamos precisar inventar novas tecnologias para tornar a internet mais acessível e trazer acesso a áreas desconectadas. Isso vai requerer parcerias com os governos, com organizações sem fins lucrativos e com empresas. Isso vai requerer o engajamento com as comunidades para entender o que eles precisam. Boas pessoas terão visões diferentes sobre o melhor caminho para avançar e nós tentaremos muitas coisas antes de obtermos o sucesso.
Mas juntos nós podemos ter sucesso e criar um mundo mais igualitário.
***
A tecnologia não pode resolver problemas sozinha. Construir um mundo melhor começa com a construção de comunidades fortes e saudáveis.
As crianças têm melhores oportunidades quando elas podem aprender. E elas aprendem melhor quando elas têm saúde.
A saúde começa cedo - com uma família amorosa, boa nutrição e um ambiente seguro e estável.
As crianças que encaram experiências traumáticas no começo da vida muitas vezes desenvolvem mentes e corpos menos saudáveis. Estudos mostram as mudanças físicas no desenvolvimento do cérebro, que levam a uma menor habilidade cognitiva.
Sua mãe é uma médica e educadora, e ela tem visto isso em primeira mão.
Se você tem uma infância que não é saudável, é difícil alcançar todo o seu potencial.
Se você precisa se perguntar se você vai ou não ter comida ou dinheiro para o aluguel, ou se preocupar com abusos ou crimes, então, é difícil alcançar todo o seu potencial.
Se você teme ir para a prisão em vez de ir para a faculdade por causa da cor da sua pele ou teme que sua família seja deportada por conta de seu status legal, ou teme ser vítima de violência por causa da sua religião, orientação sexual ou identidade de gênero, então, é difícil alcançar todo o seu potencial.
Precisamos de instituições que entendem que estas questões estão todas conectadas. Essa é a filosofia do novo tipo de escola que sua mãe está construindo.
Por meio de parcerias com escolas, centros de saúde, grupos de pais e governos locais, e nos assegurando de que todas as crianças estão bem alimentadas e cuidadas para entrar na juventude, nós podemos começar a tratar essas desigualdades conectadas. Só aí podemos começar coletivamente a dar a todos uma oportunidade igual.
Levará muitos anos para desenvolvermos esse modelo por completo. Mas é um outro exemplo de como avançar o potencial humano e promover igualdade estão fortemente interligados. Se quisermos isso, devemos primeiro construir comunidades inclusivas e saudáveis.
***
Para que a sua geração viva em um mundo melhor, há muito mais que nossa geração pode fazer.
 Hoje sua mãe e eu nos comprometemos a gastar nossas vidas fazendo nossa pequena parte para ajudar a solucionar esses desafios. Eu continuarei sendo CEO do Facebook por muitos, muitos anos à frente, mas esses assuntos são importantes demais para esperar até que você ou eu sejamos velhos para começar esse trabalho. Começando em uma idade jovem, esperamos ver muitos benefícios durante toda a nossa vida.
Enquanto você dá à próxima geração da família Chan Zuckerberg, nós também damos inicio à Iniciativa Chan Zuckerberg para unir pessoas ao redor do mundo para avançar no potencial humano e promover a igualdade para todas as crianças da próxima geração. Nossas áreas iniciais focam em ensino personalizado, cura de doenças, conexão de pessoas e construção de comunidades fortes.
Todos daremos 99% de nossas ações do Facebook – atualmente 45 bilhões de dólares – durante nossas vidas para avançar nessa missão. Sabemos que é uma pequena contribuição comparando com todos os recursos e talentos daqueles que já estão trabalhando nisso. Mas nós queremos fazer tudo o que pudermos, trabalhando ao lado de muitos outros.
Compartilharemos mais detalhes durante os próximos meses, uma vez que tenhamos estabelecido nosso novo ritmo familiar e retornado de nossas licenças maternidade e paternidade. Entendemos que todos terão muitas perguntas sobre como estamos fazendo isso.
Conforme nos tornamos pais e entramos nesse novo capítulo de nossas vidas, queremos dividir nosso profundo apreço por todos que tornaram isso possível.
Apenas podemos fazer esse trabalho porque temos uma forte comunidade global atrás de nós. Construir o Facebook criou recursos para melhorar o mundo para a próxima geração.  Cada membro da comunidade do Facebook é uma peça deste trabalho.
Podemos fazer progressos em direção a essas oportunidades apenas se nos apoiarmos nos especialistas – nossos mentores, parceiros e muitas pessoas incríveis que cujas contribuições construíram esses campos.
E só podemos focar em servir essa comunidade e essa missão porque estamos cercados por uma família amorosa, amigos apoiadores e colegas incríveis. Esperamos que você também tenha relações profundas e inspiradoras como essas em sua vida.
Max, nós te amamos e sentimos uma grande responsabilidade em em deixar um mundo melhor para você e seus filhos. Desejamos que a sua vida seja cheia do mesmo amor, esperança e alegria que você nos dá. Mal podemos esperar para ver o que você trouxe para este mundo. 

Com amor,

 Papai e mamãe"

sábado, novembro 14

* A primeira geladeira....

Olá,
Nem sei se estou voltando, mas,  hoje me deu uma vontade irresistível de mostrar um texto publicado pela BBC.
Com saudade e carinho mando um copy&cola pra galera...

Beijos meus....




Tim Vickery: Minha primeira geladeira e por que o Brasil de hoje lembra a Inglaterra dos anos 60

Tim Vickery* Colunista da BBC Brasil - 13 novembro 2015



Acho que nasci com alguma parte virada para a lua. Chegar ao mundo na Inglaterra em 1965 foi um golpe e tanto de sorte. Que momento! The Rolling Stones cantavam I Can’t Get no Satisfaction, mas a minha trilha sonora estava mais para uma música do The Who, Anyway, Anyhow, Anywhere.

Na minha infância, nossa família nunca teve carro ou telefone, e lembro a vida sem geladeira, televisão ou máquina de lavar. Mas eram apenas limitações, e não o medo e a pobreza que marcaram o início da vida dos meus pais.

Tive saúde e escolas dignas e de graça, um bairro novo e verde nos arredores de Londres, um apartamento com aluguel a preço popular – tudo fornecido pelo Estado. E tive oportunidades inéditas. Fui o primeiro da minha família a fazer faculdade, uma possibilidade além dos horizontes de gerações anteriores. E não era de graça. Melhor ainda, o Estado me bancava.

Olhando para trás, fica fácil identificar esse período como uma época de ouro. O curioso é que, quando lemos os jornais dessa época, a impressão é outra. Crise aqui, crise lá, turbulência econômica, política e de relações exteriores. Talvez isso revele um pouco a natureza do jornalismo, sempre procurando mazelas. É preciso dar um passo para trás das manchetes para ganhar perspectiva.


Será que, em parte, isso também se aplica ao Brasil de 2015?


Não tenho dúvidas de que o país é hoje melhor do que quando cheguei aqui, 21 anos atrás. A estabilidade relativa da moeda, o acesso ao crédito, a ampliação das oportunidades e as manchetes de crise – tudo me faz lembrar um pouco da Inglaterra da minha infância.

Por lá, a arquitetura das novas oportunidades foi construída pelo governo do Partido Trabalhista nos anos depois da Segunda Guerra (1945-55). E o Partido Conservador governou nos primeiros anos da expansão do consumo popular (1955-64). Eles contavam com um primeiro-ministro hábil e carismático, Harold Macmillan, que, em 1957, inventou a frase emblemática da época: "nunca foi tão bom para você" ("you’ve never had it so good", em inglês).


É a versão britânica do "nunca antes na história desse país". Impressionante, por sinal, como o discurso de Macmillan trazia quase as mesmas palavras, comemorando um "estado de prosperidade como nunca tivemos na história deste país" ("a state of prosperity such as we have never had in the history of this country", em inglês).

Macmillan, "Supermac" na mídia, era inteligente o suficiente para saber que uma ação gera uma reação. Sentia na pele que setores da classe média, base de apoio principal de seu partido, ficaram incomodados com a ascensão popular.

Em 1958, em meio a greves e negociações com os sindicatos, notou "a raiva da classe média" e temeu uma "luta de classes". Quatro anos mais tarde, com o seu partido indo mal nas pesquisas, ele interpretou o desempenho como resultado da "revolta da classe média e da classe média baixa", que se ressentiam da intensa melhora das condições de vida dos mais pobres ou da chamada "classe trabalhadora" ("working class", em inglês) na Inglaterra.

Em outras palavras, parte da crise política que ele enfrentava foi vista como um protesto contra o próprio progresso que o país tinha alcançado entre os mais pobres.


Mais uma vez, eu faço a pergunta – será que isso também se aplica ao Brasil de 2015?


Alguns anos atrás, encontrei um conterrâneo em uma pousada no litoral carioca. Ele, já senhor de idade, trabalhava como corretor da bolsa de valores. Me contou que saiu da Inglaterra no início da década de 70, revoltado porque a classe operária estava ganhando demais.

No Brasil semifeudal, achou o seu paraíso. Cortei a conversa, com vontade de vomitar. Como ele podia achar que suas atividades valessem mais do que as de trabalhadores em setores menos "nobres"? Me despedi do elemento com a mesquinha esperança de que um assalto pudesse mudar sua maneira de pensar a distribuição de renda.

Mais tarde, de cabeça fria, tentei entender. Ele crescera em uma ordem social que estava sendo ameaçada, e fugiu para um lugar onde as suas ultrapassadas certezas continuavam intactas.


Agora, não preciso nem fazer a pergunta. Posso fazer uma afirmação. Essa história se aplica perfeitamente ao Brasil de 2015. Tem muita gente por aqui com sentimentos parecidos. No fim das contas, estamos falando de uma sociedade com uma noção muito enraizada de hierarquia, onde, de uma maneira ainda leve e superficial, a ordem social está passando por transformações. Óbvio que isso vai gerar uma reação.

No cenário atual, sobram motivos para protestar. Um Estado ineficiente, um modelo econômico míope sofrendo desgaste, burocracia insana, corrupção generalizada, incentivada por um sistema político onde governabilidade se negocia.

A revolta contra tudo isso se sente na onda de protestos. Mas tem um outro fator muito mais nocivo que inegavelmente também faz parte dos protestos: uma reação contra o progresso popular. Há vozes estridentes incomodadas com o fato de que, agora, tem que dividir certos espaços (aeroportos, faculdades) com pessoas de origem mais humilde. Firme e forte é a mentalidade do: "de que adianta ir a Paris para cruzar com o meu porteiro?".

Harold Macmillan, décadas atrás, teve que administrar o mesmo sentimento elitista de seus seguidores. Mas, apesar das manchetes alarmistas da época, foi mais fácil para ele. Há mais riscos e volatilidade neste lado do Atlântico. Uma crise prolongada ameaça, inclusive, anular algumas das conquistas dos últimos anos. Consumo não é tudo, mas tem seu valor. Sei por experiência própria que a primeira geladeira a gente nunca esquece.

*Tim Vickery é colunista da BBC Brasil e formado em História e Política pela Universidade de WarwickTim Vickery: Minha primeira geladeira e por que o Brasil de hoje lembra a Inglaterra dos anos 60

 

sábado, maio 17

* Sinto vergonha!


Os gastos para a realização da Copa do Mundo de 2014 viraram alvo das manifestações que se espalham pelo Brasil, sobretudo em frente aos estádios que recebem jogos da Copa das Confederações 2013

Também tenho vontade de sair às ruas, mostrar a minha revolta de cidadã brasileira, envergonhada da hipocrisia e da covardia de outros cidadãos, cientes que o Brasil sediará os jogos da copa do mundo desde 2007, só agora, patrocinados, comprados e vendidos por interesses contrários do nosso país, resolvem proporcionar esse espetáculo mambembe, ridículo, que nos envergonha a todos.



Ok! Falta saúde pública, moradia, educação e transporte público de qualidade e VÃO FALTAR SEMPRE!!!!!! Nunca estaremos completamente satisfeitos, até porque a insatisfação é o que nos move para nos tornarmos a cada dia um país mais justo... Nunca atenderemos a demanda da população que cresce assustadoramente todos os dias em cidades que recebem pessoas de todas as partes, ininterruptamente, necessitados de melhores condições do que lhe oferece seu local de origem.



Também tenho vontade de mostrar a minha indignação com a escolha de Claudia Leitte como símbolo da Copa.



Quem? Por que? Em que representa nosso país?



Brasileiros e brasileiras, nessa semana TRÊS MIL PESSOAS (ui!.. somos 200 milhões de brasileiros!!!!!!!) pararam São Paulo, suas vias de acesso, mais uma vez provocaram quebra quebra, tentando intimidar estrangeiros prestes a realizar o sonho de conhecer nosso país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, a conhecer essa gente bronzeada e feliz que nunca foi tão próspera!
Em meio a uma tarde de trabalho numa rotina exaustiva, me perguntava quem seriam essas pessoas nas ruas, quem as financiava enquanto promoviam a baderna, que sabemos todos, até os mais idiotas, que não levará a lugar algum, ou quem sabe, talvez, a desabafos como esse de uma paulistana orgulhosa de ser brasileira, mas que não pode evitar nesse momento de sentir vergonha desse povinho que acha que me representa.
 
Pronto, falei!
 
 
 

domingo, abril 13

* Ainda derrubam a máscara de Joaquim & Cia

 


Recursos internacionais começam a demolir o julgamento do ‘mensalão’
Se não bastasse a ação do ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato na Itália, por um novo julgamento, três réus ligados ao Banco Rural, Kátia Rabello, José Roberto Salgado e Vinícius Samarane, também decidiram recorrer à Corte Internacional de Direitos Humanos, da qual o Brasil é um dos países-membros, contra o julgamento que ficou conhecido, na mídia conservadora, como ‘mensalão’. O mesmo artefato jurídico que levou à prisão o ex-ministro José Dirceu, mantido há mais de três meses em regime fechado, quando foi condenado ao semiaberto, começa a esfarelar por ter negado um direito elementar aos réus, que é o duplo grau de jurisdição. Todos foram julgados diretamente pelo Supremo Tribunal Federal, sem poder apelar das sentenças.

O mesmo STF, no entanto, negou-se a julgar Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas e ex-presidente do STF, porque ele não tinha foro privilegiado. Assim sendo, ficou difícil para a Corte explicar porque Azeredo, do PSDB, obteve o duplo grau de jurisdição e os réus, ligados ao PT, foram sumariamente condenados. A decisão tomada por Kátia Rabello, José Roberto Salgado e Vinícius Samarane, em breve, deverá ser seguida por outros réus sem foro privilegiado, como José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoíno.

Segundo a colunista do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo Mônica Bergamo, os advogados Márcio Thomaz Bastos e José Carlos Dias, que defenderam executivos do Banco Rural no processo do mensalão, “estão entrando com pedido de anulação do julgamento na Comissão Interamericana de Direitos Humanos”. Os advogados alegam, segundo a jornalista, que um princípio fundamental foi transgredido: o que prevê que uma pessoa seja julgada em pelo menos duas instâncias. “O processo do mensalão tramitou apenas no Supremo Tribunal Federal (STF), sem que os réus, depois de condenados, tivessem direito à apelação para qualquer outra corte. Bastos e Dias pedem que um novo julgamento seja realizado”, lembrou.

Caso entenda que os argumentos dos advogados são pertinentes, a comissão poderá encaminhar o pedido para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, que então abriria um processo. A questão foi discutida por ministros do STF antes de o julgamento começar. Celso de Mello, por exemplo, entende que a Corte Interamericana não tem o poder de revisar o processo, mas pode abrir processo contra o Brasil, “numa punição simbólica”. O órgão aplica e interpreta a Convenção Americana dos Direitos Humanos, da qual o país é signatário. Já os ministros Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes sempre frisaram, ao longo do julgamento, que a Corte Interamericana não pode interferir em decisões judiciais do Brasil.

Prescrito

Enquanto Dirceu amarga os rigores da lei, o ex-tesoureiro do PSDB, Claudio Mourão, teve dois bons motivos para comemorar neste sábado. O primeiro é seu aniversário. O segundo é o fato de, ao completar 70 anos, ficou livre de qualquer punição no chamado ‘mensalão tucano’. Sua situação é idêntica à do ex-vice-governador de Minas Gerais, Walfrido dos Mares Guia, que também se beneficiou da prescrição, ao completar 70 anos.

O chamado “mensalão tucano” ocorreu em 1998, quando Eduardo Azeredo concorreu à reeleição, em Minas, e foi derrotado por Itamar Franco. Como o caso não foi julgado até agora, e também foi remetido à primeira instância, ao contrário da Ação Penal 470, ninguém foi julgado e condenado. Já se passaram 16 anos desde que o processo foi aberto.

Azeredo também deve se beneficiar da prescrição, pois o caso dele estava pronto para ser julgado no STF mas ele renunciou ao mandato e conseguiu ser julgado em primeira instância. Antes de qualquer condenação, ele também deverá completar 70 anos.

Ponta solta

Se os integrantes do ‘mensalão tucano’ têm motivos para dormir melhor, o pior fantasma nos pesadelos do presidente do ministro Barbosa, relator da AP 470, materializa-se na intenção de Henrique Pizzolato, na Itália, de provar sua inocência e, com isso, jogar por terra o processo que a colunista Hildegard Angel classificou como ‘mentirão’. Pizzolato estabeleceu as estratégias que vai usar para impedir sua extradição, pedida pelo governo brasileiro, e apresenta entre os principais argumentos justamente o desrespeito do Brasil à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos, conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Segundo o criminalista Alessandro Sivelli, que assumiu a defesa de Pizzolato, um dos tópicos do artigo 8 do pacto, sobre garantias judiciais, diz que toda pessoa acusada de delito tem direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior. Outro artigo, o 25, estabelece que os Estados Partes se comprometem a desenvolver as possibilidades de recurso judicial. O Brasil promulgou a convenção em 1992.

Pizzolato foi condenado pelo STF a 12 anos e 7 meses de prisão por formação de quadrilha, peculato e lavagem de dinheiro, Pizzolato não teve direito aos embargos infringentes, uma forma de segundo julgamento na Corte. O recurso é permitido somente para condenados que obtiveram ao menos quatro votos pela absolvição no crime pelo qual foi julgado, o que não foi o caso do ex-diretor do BB.

O ex-diretor do BB fugiu do Brasil para a Itália em setembro de 2013, com um passaporte italiano falso no nome do irmão, Celso, morto em 1978. Ele foi preso em Maranello, no Norte da Itália, em 5 de fevereiro. Cidadão italiano, Pizzolato segue preso enquanto a Itália não dá resposta ao governo brasileiro sobre o pedido de extradição. Sivelli está se aprofundando sobre o funcionamento do Supremo, uma vez que isso é tido como base fundamental para a defesa na Itália. O advogado vai comparar como funcionam os julgamentos de mesmo parâmetro nos dois países.(Correio do Brasil)
 
 

 

terça-feira, abril 8

* Pois é, Aecinho... Então..., tá! rsss


Aécio Neves Porto Alegre (Foto: Rafaella Fraga/G1)
Uma confusão marcou o discurso do presidente do PSDB, Aécio Neves, na noite de abertura da 27ª edição do Fórum da Liberdade, em Porto Alegre, nesta segunda-feira (7). Um estudante foi retirado do Salão de Atos da PUCRS pelos seguranças do evento após fazer um questionamento em voz alta ao pré-candidato tucano à Presidência.
O senador de Minas Gerais foi convidado a falar sobre “competitividade” no Fórum da Liberdade. Após fazer críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff, Aécio estava prestes a encerrar sua participação no evento quando, do fundo do salão, um estudante gritou alguma pergunta, que pouco deu pra entender. Mencionava “cocaína no helicóptero”.
O tucano deixou o palco sem responder, enquanto o público vaiava o jovem. Em seguida o estudante, que estava sozinho, foi retirado do Salão de Atos por dois seguranças. A organização do evento confiscou a credencial de identificação dele. Disse que opiniões divergentes são aceitas no fórum, mas que é preciso “educação”.
Na rua, o jovem identificou-se como Marcelo Ximenes, 25 anos, estudante de ciências sociais da PUCRS. Disse que queria questionar o senador sobre o episódio ocorrido em novembro passado, quando quase 500 quilos de cocaína foram apreendidos em um helicóptero em nome da empresa de propriedade do deputado estadual Gustavo Perrella (SDD-MG), filho do senador Zezé Perrella (PDT-MG), considerado pelo jovem aliado de Aécio.
“Quase me agrediram, foi isso o que aconteceu”, disse o estudante, reclamando dos seguranças. “Eu gritei alto (a pergunta), já que não tinha microfone. Se eu colocasse uma pergunta como essa no papel, ninguém ia ler. Esse não é um espaço democrático, como todo espaço da direita. Que democracia é essa que não se pode fazer uma pergunta? ”, questionou Marcelo.
Estudante Aécio Neves Porto Alegre (Foto: Reprodução/RBSTV)                 
 Estudante Marcelo Ximenes foi retirado do forúm
por seguranças (Foto: Rafaella Fraga/G1)

 
O discurso de Aécio

 Durante sua palestra, Aécio Neves falou sobre democracia, cidadania, política e economia, entre outros temas. Pré-candidato do PSDB à Presidência, não poupou críticas às atuais políticas do governo federal, sobretudo as políticas sociais e econômicas. “Temos que deixar de ser um estado paternalista para ser um estado empreendedor”, defendeu.
Aécio lembrou o golpe militar de 1964 e a retomada do exercício ao voto. “Eu e os que pertencem à minha geração somos filhos da democracia e filhos da liberdade. A democracia é a liberdade de pensamento. O grande desafio da nossa geração é diferente daquela que nos legaram a democracia. Nosso desafio é transformar a democracia em efetivamente um instrumento de melhoria na qualidade de vida das pessoas”, apontou.
Sobre política, o senador voltou aos governos anteriores para listar o que, segundo ele, contribuiu para o crescimento da economia brasileira e o fortalecimento da democracia. “Eu reconheço avanços. Desde a reconstrução democrática, ao impeachment de um presidente eleito, o governo de transição do presidente Itamar [Franco], a modernização da economia, a privatização de alguns setores, que foram necessários. Todas essas reformas foram essenciais para que o Brasil avançasse”, avaliou.
Embora breve ao abordar assuntos envolvendo as eleições, o pré-candidato tucano não deixou de alfinetar o governo da presidente Dilma Rousseff. “Por maiores que sejam nossas dificuldades, temos o mais valioso instrumento para mudar as coisas. Nós temos sido administrados por gente que não quer bem o Brasil”, disse, sob aplausos da plateia simpática a ele. (G1)

domingo, março 30

* 1964 - A felicidade e o otimismo brasileiros incomodavam.... quem?

 




Muito prazer, esse é o país que antecedeu o golpe militar de 1964!
 

Nunca fomos tão felizes. Então veio o golpe

Paraíso não era, nunca foi, mas raras outras vezes tivemos a impressão de que o céu podia ser aqui

Sérgio Augusto - O Estado de S.Paulo

Paraíso não era, nunca foi, mas raras outras vezes tivemos a impressão de que o céu podia ser aqui mesmo como entre a segunda metade da década de 1950 e os primeiros anos da década seguinte. Democracia plena, otimismo econômico, industrialização acelerada, um presidente (JK) sonhador, sorridente e dinâmico, com a autoestima turbinada por duas Copas do Mundo, pelo reinado de Eder Jofre nos ringues internacionais e Maria Esther Bueno nas quadras de Wimbledon, o Brasil se descobriu contemporâneo, progressista e culturalmente relevante.
JK na inauguração de Brasília

Relevante e influente. Graças, sobretudo, à bossa nova, nosso maior produto de exportação depois do café, do futebol e de Carmen Miranda. Oficialmente apresentada aos americanos num histórico concerto no Carnegie Hall, em novembro de 1962, a bossa nova precisou de muito pouco tempo para conquistar os gringos e polinizar a música popular do mundo inteiro. Só entre 1961 e 1963, Samba de Uma Nota, de Tom & Newton Mendonça, foi gravada por 15 músicos americanos e europeus.
Teatro de Arena da UFRJ

Local que respira história e cultura. Aquele que, na época em que o palácio era um hospício, servia para vigiar os doentes, também foi um marco da música popular brasileira. No final da década de 50, o Teatro de Arena foi o palco que lançou o mais importante movimento de música cosmopolita do Brasil, a Bossa Nova, durante o lançamento do disco de João Gilberto, “Chega de Saudade”, onde estiveram presentes Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Nara Leão que fariam outro show no local no ano seguinte
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Vivíamos uma renascença musical, não por obra exclusiva da bossa nova e da "redescoberta" do samba do morro (primeiro no Zicartola e na Estudantina, mais tarde no show Opinião), mas também porque o protofunk de Jorge Benjor (então Ben, simplesmente) aos poucos enxotava das pistas de dança o twist e o hully gully. A Jovem Guarda ainda era pouco mais que um brilho nos olhos de Roberto Carlos quando as refinadas harmonias de Moacyr Santos, o nosso Duke Ellington, ganharam um LP (Coisas) com o selo de uma nova gravadora independente, Forma, tão exigente e elegante quanto a Elenco, que Aloisio de Oliveira, ex-parceiro de Carmen Miranda e Tom Jobim , criara para eternizar em disco o melhor da moderna música popular brasileira.

Além de ser a responsável pela popularização de Saint Tropez, na França, ao se mudar para lá no começo dos anos 1960, no verão de 1964 Brigitte Bardot também mudou a vida de uma pequena cidade do litoral do Rio de Janeiro chamada Armação dos Búzios, então distrito de Cabo Frio, onde ficou hospedada em suas visitas pelo Brasil, na companhia do namorado Bob Zaguri, um playboy e produtor marroquino que viveu muitos anos no Brasil. Depois da visita de BB, acompanhada diariamente pela imprensa e recheada de fotografias, Búzios foi 'descoberta', virou município e tornou-se um dos pontos mais sofisticados e procurados do verão brasileiro, inclusive por estrangeiros.

Elenco e Forma surgiram em 1963, ano especialmente marcante para a cultura do País. Líamos mais e melhor naquela época, tínhamos uma das mais sofisticadas revistas do mundo, a Senhor, que quatro anos antes chegara às bancas prometendo em editorial o que nunca deixaria de cumprir: publicar artigos, ensaios, cartuns, reportagens, entrevistas e fotos para os "elementos mais responsáveis da vida nacional, a fim de estimulá-los a considerar com mais seriedade os problemas culturais do País.
Maria Esther Bueno (tênis) – 71 títulos, entre eles: torneios individuais de Wimbledon, na Inglaterra, em 1959, 1960 e 1964, e os de duplas em 1958 (com Althea Gibson), 1960 (com Darlene Hard), 1963 (Hard), 1965 (com Billie Jean King) e 1966 (com Nancy Richey).
Ganhou ainda os torneios individuais do Aberto da Itália em 1958, 1961 e 1965. Em 1960, jogando em dupla, triunfou nos torneios de Aberto da Austrália, dos Estados Unidos, Roland-Garros (França) e Wimbledon - e assim conquistou o Grand Slam daquele ano.  

Desenhada por Carlos Scliar e Glauco Rodrigues, com textos da fina flor da intelectualidade (de Clarice Lispector a Paulo Francis, Ferreira Gullar, Ivan Lessa, José Guilherme Merquior, Luís Lobo) e cartuns de Jaguar, Senhor era a nossa Esquire, a The New Yorker carioca, o complemento mensal perfeito para o banquete de inteligência e erudição que nos serviam os sabáticos suplementos literários do Jornal do Brasil (SDJB), do Estado e da Tribuna da Imprensa.

Poesia. Não havia livros de autoajuda nem autores repetidos nas listas dos mais vendidos. Herbert Marcuse e Marshall McLuhan faziam a cabeça da massa pensante e nossos poetas de ponta (Drummond, Bandeira, João Cabral) ainda estavam vivos e ativos, assim como a arte da crônica e da narrativa curta, honradas naquele ano por Sérgio Porto (A Casa Demolida), Carlos Heitor Cony (Da Arte de Falar Mal), Dalton Trevisan (Cemitério de Elefantes) e pelo estreante Rubem Fonseca, cuja coletânea de contos, Os Prisioneiros, lançada por uma pequena editora, deixou a crítica extasiada.

Pelé, Garrincha... O Brasil venceu a Copa do Mundo de 58 e 62. 

Com a recém-fundada Escola Superior de Desenho Industrial formando seus primeiros quadros, iniciamos a década de 1960 ainda mais convencidos de que um bom visual podia até melhorar um mau produto. A revista Senhor era um bom exemplo. E o mesmo se diga do Jornal do Brasil depois de sua reforma gráfica no final dos anos 1950, das capas minimalistas dos discos da Elenco e dos livros da Civilização Brasileira, estas concebidas por Eugenio Hirsch, e dos lançamentos da exclusiva Editora do Autor, a cargo de Glauco Rodrigues e Bea Feitler.

Com suas estrelas (Cacilda Becker, Maria Della Costa, Tônia Carrero, Fernanda Montenegro, Sérgio Britto, Ítalo Rossi) no apogeu e ainda sem a concorrência das telenovelas, o teatro nacional exibia um vigor artístico que São Paulo (TBC) e Rio (Teatro dos Sete) em breve deixariam de ver. À margem da ribalta clássica, o Centro Popular de Cultura, núcleo de esquerda da União Nacional dos Estudantes criado em 1961 para levar teatro ao povo e discutir seus problemas com as lições de Marx e Brecht, entrou em cena cheio de entusiasmo, e na primeira oportunidade, aproveitando-se da maré favorável ao cinema da terra (O Pagador de Promessas conquistara a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1962), meteu-se a produzir filmes; o primeiro, urbano, de episódios ambientados no que hoje chamam de comunidade carente (Cinco Vezes Favela), o segundo, rural, no coração dos conflitos agrários do Nordeste, inspirado num cordel de Ferreira Gullar e dirigido por Eduardo Coutinho, com o título de Cabra Marcado Para Morrer.



Capa do livro Essa Tal de Bossa Nova e plateia no Carnegie Hall, em 1962. Fotos: divulgação/Revista Cruzeiro
No dia 21 de novembro completam-se 50 anos de um dos shows mais representativos do estabelecimento da bossa nova nos Estados Unidos. Em 1962, mais de 3 mil pessoas compareceram ao Carnegie Hall, em Nova York, para assistir às apresentações de Tom Jobim, João Gilberto, Roberto Menescal, Sérgio Mendes, Carmen Costa e de inúmeros outros artistas brasileiros que encabeçavam o então novo gênero musical brasileiro Símbolo. Ainda vendendo otimismo adentramos 1964, recebendo a visita, nos primeiros dias de janeiro, de um dos mais cobiçado símbolos sexuais do cinema, Brigitte Bardot, e, duas semanas depois, da atriz e cantora espanhola Sarita "La Violetera" Montiel. Sarita veio filmar Samba, uma bobagem carnavalesca; BB veio a lazer, trazida pelo noivo, Bob Zagoury, um playboy marroquino apaixonado pelo Brasil, que a levou para uma aldeia de pescadores, na região dos Lagos, no Estado do Rio. Nascia ali a mística de Búzios, a Saint-Tropez do Atlântico Sul, onde até hoje sua musa e padroeira é reverenciada, agora em forma de estátua de bronze. BB lá se enfurnou durante quatro meses, segundo ela própria, os mais felizes de sua vida.

 
 

Deus e o Diabo na Terra do Sol– Glauber Rocha 

Ela ainda era o grande assunto mundano da praça, quando Glauber Rocha fez a primeira exibição privada de Deus e o Diabo na Terra do Sol, para um seleto grupo de amigos, na manhã de uma sexta-feira 13. E fomos todos para o vetusto cinema Vitória, perto da Cinelândia, centro do Rio, adrede escolhido porque dali os convidados de Glauber identificados com o governo Jango rumariam para o ominoso Comício da Central do Brasil, programado para o final da tarde.
 
 
Capa da revista Senhor - 1959

Estávamos a 18 dias do golpe militar. Deus e o Diabo só seria lançado em julho, depois de se consagrar em Cannes. Já Cabra Marcado Para Morrer, cujas filmagens, em Engenho da Galileia (Pernambuco), foram interrompidas pelos militares, teve de esperar pela anistia para poder ser concluído, exibido e várias vezes premiado. Apenas a ditadura estava marcada para morrer. Mas teríamos de esperar 21 anos.