A “Roda”
Algumas atividades da Santa Casa de Misericórdia merecem
um capítulo à parte, em virtude da importância de que se revestem por suas
conotações históricas, culturais e médico-hospitalares de São Paulo e do
Brasil.
Começamos por assinalar a “Roda dos Expostos ou Excluídos”,
de origem italiana ou portuguesa, que terá sido instalada no Rio de Janeiro,
seguindo-se as da Bahia e de São Paulo, onde funcionou desde 2 de Julho de 1825
até 5 de Junho de 1950. A Roda de São Paulo está hoje no Museu da Santa Casa
paulistana trata-se de uma autêntica “roda”, de forma cilíndrica, que girava
sobre um eixo: a criança era colocada no cilindro, que rodava para dentro. O
entregador tocava uma campainha e uma das caridosas freiras vinha recolher o
bebê e providenciava a sua internação, lavando-a e alimentando-a - em resumo, o
menino ou a menina eram criados pelas religiosas, até que, na idade adequada, a
criança era confiada ao Asylo Sampaio Viana, que ficava no Pacaembu, e
posteriormente encaminhada ao Colégio de São José, mantido pela Santa Casa.
Depois de alfabetização, o exposto aprendia uma profissão, aprendiam a falar em
francês e latim, até que pudesse viver do seu trabalho.
Alguns meninos ou meninas, educados tão cristãmente,
conseguiram chegar à Universidade e muitos deles ocuparam situações
profissionais de alto nível na sociedade. Era humilde e desconhecida a sua
origem, a infância e a adolescência ficou registrada apenas nos seus cadernos
escolares, o que reforça ainda mais o sentido social da obra verdadeiramente
misericordiosa. O mundo evoluiu, a “roda” pertence ao passado, mas aqueles que
a serviram revelaram-se bem mais solidários com as crianças do tempo do que certos
que hoje trabalham nas instituições oficiais com a obrigação de cuidar dos
meninos e meninas abandonados.
Entre as histórias que mais parecem contos de
fada do que as realidades de ontem, as histórias da “roda” ainda são por vezes
lembradas por aqueles que as escutaram de seus pais e avós – e por este modo se
explica que a roda dos expostos seja uma das “peças” que maior curiosidade
despertam entre os visitantes do Museu da Santa Casa Bandeirante.(fonte-santacasa.org.br)
A imagem mostrada acima:
RODA DOS EXPOSTOS: Esta peça é um cilindro oco,
confeccionada em madeira de Pinho de Riga, que girava em seu eixo, colocada em
muros e com uma abertura voltada para a rua. É considerado o objeto de maior
importância do museu da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. No centro do
pedestal estão os livros com os registros das crianças e das amas contratadas e
encarregadas da amamentação.
Rodas de bebês rejeitados ressurgem na Europa
Um sistema comum na Idade Média para abandonar filhos
indesejados ressurgiu com força na Europa nos últimos dez anos, mas com nova
roupagem.
Diferente das rodas de bebês rejeitados de outros séculos, o
equipamento moderno difere dos cilindros de madeira instalados em paredes de
conventos ou igrejas medievais.
Nos equipamentos antigos os bebês indesejados eram
depositados pela parte de fora e depois girados para dentro dos
estabelecimentos.
Embora tenha a mesma finalidade, o novo sistema consiste em
uma espécie de berço aquecido, monitorado por enfermeiras e disposto em locais
próximos a hospitais com fácil acesso da população.
A prática, entretanto, continua sendo duramente criticada
pela ONU, uma vez que violaria os direitos das crianças.
Em Berlim, por exemplo, uma placa localizada ao final de uma
rua de um bairro tranquilo chama atenção de moradores e visitantes, apontando
para um caminho entre as árvores.
Na placa, lê-se a seguinte mensagem "Babywiege"
(berço).
No final deste caminho, há uma escotilha de aço com uma
alça. Dentro dela, uma espécie de berço, com cobertores para acomodar o
recém-nascido, possivelmente indesejado pela família.
O local é seguro e a temperatura ideal para um bebê. Há
também uma carta deixada pelos responsáveis pela instalação do berço, caso o
depositante se arrependa de sua decisão e queira a criança de volta.
Duas vezes por ano, alguém - possivelmente uma mulher - percorre
tal trajeto até os fundos do Hospital Walfriede.
Para fontes ligadas ao tema, trata-se, normalmente, de um
caminho sem volta. A criança indesejada crescerá sem nunca conhecer a mãe.
O processo é anônimo, ou seja, não se conhece a identidade
do depositante, por mais que tal prática seja mais comum entre as mães.
Mas é justamente este argumento - o de confidencialidade -
que é criticado por quem condena a iniciativa.
Crítica- Críticos afirmam que a roda pode ser usada por pais
inescrupulosos ou até cafetões para pressionar as mães a abandonar seus bebês.
"Estudos na Hungria mostram que não são necessariamente
as mães que depositam seus filhos nessas caixas, mas, por outro lado, parentes,
cafetões, padrastos e até mesmo os pais biológicos", disse em entrevista à
BBC Kevin Browne, da Universidade de Nottingham.
Funcionamento da "roda" moderna é similar à
medieval; bebê é depositado dentro da escotilha.
"Como o processo é realizado no anonimato e não inclui
qualquer aconselhamento psicológico à mãe, cria um precedente perigoso tanto
para a mulher como para a criança", acrescentou.
Para o estudioso, ao facilitar o processo de abandono de um
bebê, as mães ficam menos suscetíveis a receber a ajuda necessária em uma
situação de grande trauma emocional e, até mesmo, de risco para sua saúde.
Não há consenso, contudo, sobre o argumento levantado por
Browne. Partidários da medida afirmam que estão oferecendo a mães desesperadas
uma maneira segura de abandonar filhos indesejados.
Recentemente, uma mãe alemã foi condenada por atirar seu
filho recém-nascido da janela do quinto andar de um edifício.
Crescimento- Situações como essa impulsionaram a prática da
"roda" moderna na Europa Central e Oriental, desde os países
bálticos, passando por Alemanha, Áustria, Polônia, Hungria, República Tcheca
até a Romênia.
A lei de alguns desses países encoraja o sistema. Na
Hungria, por exemplo, a legislação foi alterada para permitir que a iniciativa
fosse considerada legal, nos mesmos padrões da adoção, enquanto que o abandono
de um recém-nascido continua sendo considerado crime.
Kevin Browne, da Universidade de Nothingham, acredita que a
tendência de crescimento é maior em países com passado comunista ou
majoritariamente católicos, onde o estigma da mãe solteira ainda é muito forte.
Caixas para o abandono de bebês por país.
Alemanha – 99, Polônia – 45, República Tcheca – 44, Hungria –
26, Eslováquia – 16, Lituânia – 8, Itália - 8, Bélgica – 1, Holanda - 1, Suíça
– 1, Vaticano – 1, Canadá – 1, Malásia – 1.
Fonte: Comitê dos Direitos das Crianças das Nações Unidas
Para Gabriele Stangl, do Hospital Waldfriede em Berlim, que
recebe dezenas de recém-nascidos por ano, a prática moderna da "roda"
salva vidas, e, diferentemente do que pensa Browne, também aumenta os direitos
das crianças.
Segundo ela, o sistema conta com todas as facilidades de uma
maternidade comum. Uma vez que o bebê é depositado no berço improvisado, um
alarme soa e uma equipe de médicos chega para checar o estado de saúde do
recém-nascido.
A criança, então, é tratada no hospital e nutrida até ser
encaminhada ao sistema legal de adoção. Neste período inicial, as mães têm o
direito de buscarem de volta seus filhos caso se arrependam. Porém, uma vez
feita a adoção, não há mais recurso.
Arrependimento- Não são raros os casos das mães que decidem
voltar atrás em sua decisão. Uma delas contou à BBC que, como engravidou muito
jovem e não tinha o apoio do pai da criança, ficou em estado de choque após o
nascimento e decidiu colocar o filho na "roda". Ela, entretanto, se
arrependeu uma semana depois.
Em uma única "roda" em Hamburgo, no norte da
Alemanha, 42 bebês foram abandonados na última década. Desse montante, 17 mães
contataram os organizadores e 14 buscaram de volta seus filhos.
"Em 1999, cinco bebês foram abandonados na cidade e três deles morreram", disse Steffanie Wolpert, uma das fundadoras do sistema de Hamburgo. "Então, nós pensamos em um jeito de contornar essa situação e permitir a sobrevivência dessas crianças", acrescentou.
Mas os críticos, como o Comitê das Nações Unidas para os Direitos das Crianças, não estão convencidos dos benefícios do sistema. Eles alegam que a iniciativa é um retrocesso às práticas medievais.
Segundo Maria Herczog, uma psicóloga infantil que integra o comitê, uma alternativa mais eficiente à "roda" moderna seria entender e ajudar as mães em circunstâncias difíceis.
"Essa prática envia uma mensagem errada às mulheres de que têm o direito de continuar escondendo a gravidez, dando a luz em circunstâncias pouco conhecidas e abandonando seus bebês", disse Herczog.(fonte-BBC News Berlim).
Esse é um assunto pra ser visto com todo cuidado em tempos em que crianças indesejadas são mortas e abandonadas por suas mães e famílias.