segunda-feira, julho 2

* Cracolândia - SP. Seis meses depois...


 Usuários de crack reunidos, na quinta-feira, na rua dos Gusmões, no centro de São Paulo

O ENEPA abordou o assunto em janeiro quando considerou desastrosa e desastrada a ação conjunta da prefeitura e governo do Estado de São Paulo, amplamente divulgada, com o objetivo de combater uma das maiores vergonhas da cidade de São Paulo, a Cracolândia. Veja aqui.

Pois bem, a foto acima, publicada na Folha de São Paulo em 01 de julho mostra o que acontece seis meses depois na área que a prefeitura e o governo do Estado acreditam estar livre da Cracolândia.


Seis meses após início de ação da polícia, cracolândia persiste
Um vendedor ambulante passa por uma rua do centro de São Paulo com seu carrinho e oferece espetinhos de carne e bebidas, às 23h da última terça. Seus clientes são parte de um grupo de cerca de 400 viciados em crack que perambulam pela cracolândia.
A chegada do comércio informal à região, que também tem uma espécie de "mercado de pulgas" onde as pessoas permutam desde tênis até peças de rádio, comprova que, ao contrário do que previam as autoridades, a cracolândia não morreu.
Ela diminuiu, com a migração de dependentes para outras regiões da cidade, e se espalhou pelo próprio centro.
Na próxima terça-feira, fará seis meses que a PM intensificou sua presença na área, com a promessa de acabar com o tráfico e abrir espaço para que agentes de saúde pudessem levar mais dependentes para o tratamento.
No entanto, o tráfico de drogas ainda persiste, conforme a Folha constatou na semana passada em sete visitas às ruas da região.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o número de atendimentos aos dependentes continuou o mesmo de antes da operação, mesmo após a inauguração do Complexo Prates, principal serviço público voltado para os dependentes de crack.
AÇÃO JUDICIAL
Levantamento do Ministério Público mostra que só um terço das pessoas encaminhadas para internação nas clínicas da prefeitura em janeiro, mês da entrada da PM na cracolândia, continuava o tratamento três meses depois.
O tratamento deveria durar seis meses, segundo o promotor Arthur Pinto Filho, que vai entrar com uma ação contra prefeitura e governo do Estado exigindo um sistema eficaz de tratamento.
O promotor diz que o Complexo Prates, inaugurado três meses após o início da operação policial, está "subutilizado" - mesma opinião da Comissão de Saúde da Câmara Municipal, que esteve no local no fim de abril. A reportagem esteve duas vezes no complexo na semana passada e constatou sua ociosidade. 
Avaliação do trabalho na cracolândia é positiva, diz governo
Um trabalho "extremamente positivo". Essa é a avaliação da secretária estadual da Justiça, Eloísa Arruda, sobre os seis meses da intensificação da presença da Polícia Militar na cracolândia.
No final de janeiro, Eloísa havia dito que a cracolândia tinha acabado. Na entrevista concedida anteontem, ela não repetiu a afirmação.
A secretária diz que os trunfos desse período foram a prisão de 489 pessoas e a internação de outras 775.
Sobre o fato de a ação da PM ter sido considerada "vexatória" pelo Ministério Público, Eloísa afirma que os policiais precisaram ser mais incisivos para garantir a segurança.
"A atuação dos traficantes não permitia mais o ingresso dos agentes", afirmou.
A secretária diz ainda que não houve quebra de confiança entre dependentes e agentes de saúde. Admite, porém, que houve migração dos viciados para outras áreas.
"Nunca vimos a migração como algo negativo. Tiramos aquela pessoa do foco de assédio de traficantes e tivemos a oportunidade de abordá-la em outras regiões."
A opinião é a mesma de Rosângela Elias, coordenadora da área de Saúde Mental, Álcool e Drogas da Prefeitura de São Paulo.
Rosângela diz que o Complexo Prates não está subutilizado. Diz que nos últimos três meses foram feitos 5.000 atendimentos na AMA, espécie de pronto-socorro que é a porta de entrada para o tratamento --a capacidade é de 5.000/mês--, e que Centro de Atenção Psicossocial, onde o tratamento é feito, tem 467 pessoas cadastradas. Elas vão ao local de quatro vezes por semana a uma vez por mês.
Rosângela diz ainda que não é possível concluir que uma internação deve durar seis meses, como diz a Promotoria, pois o tratamento varia de pessoa para pessoa. 
"Enquanto tiver droga, cracolândia vai existir", diz dependente  
Marcio Alencar Lincoln, 35, é usuário de crack há dez anos e há 15 dias passa por tratamento na ONG Cristolândia. Morou por seis meses na cracolândia e presenciou a ação policial. Leia o depoimento.
"Estava num bar, em frente ao 'buraco' onde as pessoas consumiam a droga. Bebia uma pinga, tinha acabado de fumar uma pedra. De repente foi aquele monte de tiro de bala de borracha, duas pegaram nas minhas costas.
Os policiais chutavam as pessoas que dormiam e a população que usava droga foi se espalhando. Hoje a cracolândia voltou ao normal, é viciado por toda parte.
[A prefeitura] nunca me ofereceu ajuda. Eu procurei minha própria ajuda. Não conheço o complexo Prates, nunca ouvi falar. Busquei tratamento para reconquistar a minha família.
A polícia na cracolândia não resolve nada. Só serve para dispersar as pessoas. Não adianta oprimir o viciado, se quilos de droga chegam da Colômbia.
Enquanto tiver a droga vai existir cracolândia. Ainda que eles coloquem o exército aqui.”
De acordo com promotores de Justiça, o Estado de São Paulo, governado por Geraldo Alckmin (PSDB), não pode ser o "algoz do cidadão" nem o "chicote do pobre"
12 de Junho de 2012 às 15:15 (Brasil247)Fernando Porfírio _247 -
O Ministério Público paulista entrou na Justiça, nesta terça-feira (12), com uma ação civil pública contra o governo Geraldo Alkmin na qual pede indenização de R$ 40 milhões. A ação é contra a chamada "Operação Sufoco", iniciada em janeiro na Cracolândia, na região central da capital.
O MP ainda pediu, caráter liminar, que a Polícia Militar seja obrigada a se abster de realizar as chamadas "procissões do crack" – operações policiais em que viaturas cercam usuários que estão aglomerados e fazem com que eles andem de um lado para o outro para se dispersar.
Em janeiro, o MP havia atacado a operação do governo paulista na região da "cracolândia". De acordo com promotores de Justiça, o Estado não pode ser o "algoz do cidadão" nem o "chicote do pobre". Uma força tarefa formada pelos promotores de Justiça Eduardo Valério, Luciana Bergamo, Arthur Pinto Filho e Maurício Ribeiro Lopes, anunciou que iria investigar a responsabilidade pela operação classificada como "ilícita", "pouco inteligente" e de "resultados pífios".
A operação na "cracolândia" começou em 3 de janeiro. Uma semana depois, a Polícia Militar informou que prendeu 49 pessoas. Dos presos, 26 eram condenados pela Justiça. Nesse período, a ação retirou apenas meio quilo de crack de circulação no local. A quantidade representaria o consumo de apenas um dia entre os usuários da cracolândia.
A operação, que contou com policiais e órgãos estaduais e municipais ligados à segurança, saúde e assistência social, também retirou 61,3 toneladas de lixo das ruas. Segundo balanço da PM, 2.806 abordagens policiais foram realizadas. Os agentes de saúde encaminharam 33 pessoas para serviços de saúde, nove para hospitais e 28 para internação.
"O tráfico de drogas é questão de polícia, mas a dependência química é caso de assistência social e de saúde", afirmou o promotor de justiça Eduardo Valério. "Essa operação é uma tragédia que está servindo apenas para espalhar um problema que estava concentrado numa região específica da cidade", completou o promotor.
Valério também criticou a justificativa apresentada pelo governo paulista de que a operação na "cracolândia" tinha como objetivo o combate ao tráfico de entorpecentes. "Argumentar dessa forma é menosprezar a capacidade das organizações criminosas de operar o tráfico de drogas na capital paulista. Para minimizar e acabar com o tráfico é preciso operações lícitas e inteligentes", disse o promotor Eduardo Valério.
De acordo com os promotores de justiça, o Ministério Público foi pego de surpresa com a operação no início do ano. Desde 2009, o MP acompanhava a questão da dependência química na região atuando em conjunto com entidades civis e com a prefeitura. "Não sabemos o que motivou essa operação desastrada e a abertura do inquérito que anunciamos hoje, entre outras coisas, pretende encontrar uma resposta para o caso", disse o promotor Eduardo Valério.


72% dos moradores de rua dizem que nada mudou na Cracolândia
(Publicado em 6 de junho de 2012 (Spressosp))
Operação Sufoco completa 5 meses no próximo domingo (10), sem melhorias para a população da região  
A maioria dos moradores de rua da região central de São Paulo afirma que a Operação Sufoco da Polícia Militar na região da Cracolândia não mudou em nada as suas vidas.
Uma pesquisa inédita da Secretaria Municipal de Assistência Social, obtida com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo, apontou que 72,3% dos moradores de rua afirmam que a intervenção policial, que completará cinco meses no próximo domingo (10), não acarretou mudanças em suas vidas. Outros 17,2% afirmam que a situação piorou, principalmente pela violência dos agentes de segurança, e o restante vê melhorias ou optou por não responder.
A pesquisa utilizou uma amostra de 380 pessoas, retirada do universo de 6.675 pessoas que moram nas ruas e não são atendidas pelos albergues municipais. Entre os moradores de rua que presenciaram a Operação Sufoco, 14,2% disseram ter sofrido agressão por parte da polícia, e 23,5% criticaram a operação, uma vez que, para eles, a Cracolândia mudou apenas de endereço.
O Ministério Público de São Paulo está com inquérito aberto para investigar a operação policial na Cracolândia. Os promotores Arthur Pinto Filho e Eduardo Ferreira Valério, ambos da Promotoria de Justiça de Direitos Humanos, Luciana Bergamo Tchorbadjian, da Promotoria de Defesa dos Interesses Difusos e Coletivos da Infância e Juventude, e Maurício Antonio Ribeiro Lopes, da Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo, afirmaram que a operação impôs dor e sofrimento aos ocupantes da região. Além disso, eles acreditam que a ação espalhou o problema para toda a cidade e tornou esses dependentes inacessíveis ao trabalho de criação de vínculo e convencimento que vinha sendo feito por agentes sociais.
A presidente da Associação Amoaluz, Paula Ribas, afirmou que  houve uma mudança para pior, as pessoas não tem assistência, estão jogadas, e são punidas por não ter ajuda. O grupo localizado facilitava a abordagem por parte de ações de agentes sociais. No início diziam que a operação policial era o primeiro passo de uma séria de ações para ajudar usuários, mas tudo aquilo que foi prometido sobre ajuda consistente a estas pessoas não chegou até agora”. Paula disse ainda que depois da operação policial, antigos pontos de venda de drogas foram reativados. “Com a concentração de usuários na Rua Helvétia, outros pontos mais distantes foram esquecidos. Com a dispersão dos usuários estes pontos foram reativados”, denunciou.

Ainda que ninguém queira saber a minha opinião..rss, tinha tudo para dar errado, nem precisava ser muito inteligente ou contar com uma grande equipe devidamente treinada e remunerada para planejar essa operação ridícula, tão propagandeada, que contou com tantos funcionários públicos, tanto recurso público..

3 comentários:

  1. 40 milhões,é?
    A cracolândia é uma mina de dinheiro para os governantes de SP.

    Ontem assisti um programa na Record que tratava desse assunto.

    Passei por perto do local, mas da Estação da Luz só levei doces recordações...

    Beijo.

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  2. Essa operação não teve nada de construtivo, a polícia foi lá só pra bater nos viciados.


    boa tarde a todos!!

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    1. Uma crueldade, irresponsabilidade, promoção enganosa com desperdício de recursos públicos!
      Obrigada pela participação.

      Beijos meus

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