sexta-feira, março 23

* A crueldade das canções infantis



Em Cananéia, litoral sul de São Paulo, descobri uma versão politicamente correta de “Atirei um pau no gato”, ensinada às crianças de uma escola pública. Foi a primeira vez que me chamou a atenção a crueldade das cantigas infantis brasileiras.
Agora, me deparei com um artigo bastante interessante, é a resposta a  carta de uma brasileira radicada nos Estados Unidos, que se identifica por “Au Pair”.
Vamos à carta:


Assunto: Canções infantis brasileiras  (03/08/2003)

Como vocês sabem, estou nos Estados Unidos da América participando de um projeto ultra secreto. Meu disfarce aqui é de "Au Pair", ou seja, babá e estudante.

Ao cuidar de uma das meninas de quem eu "teoricamente" tomo conta, uma vez cantei "Boi da cara preta" para ela, antes dela dormir. Ela adorou e essa passou a ser a música que ela sempre pede para eu cantar ao colocá-la para dormir.

Antes de adotarmos o "boi, boi, boi" como canção de ninar, a canção que cantávamos (em Inglês) dizia algo como:

Boa noite, linda menina, durma bem. Sonhos doces venham para você, sonhos doces por toda noite...

Eis que Catlin me pergunta o que as palavras em Português da música "Boi da cara preta" queriam dizer em Inglês:







Boi, boi, boi, boi da cara preta,
pega essa menina que tem medo de careta...       








Como eu ia explicar para ela e dizer que, na verdade, a música "boi da cara preta" era uma ameaça horrorosa e mordaz? Como explicar que eu estava tentando fazer com que ela dormisse com uma música que incita um bovino de cor negra a pegar uma cândida menina que tem medo até de uma inocente careta?

Tive que mentir para ela, mas comecei a pensar em outras canções infantis porque não me sentiria bem ameaçando aquela menina com um temível boi toda noite...

Que tal: nana neném que a cuca vai pegar...?

Caramba... outra ameaça! Agora com um ser ainda mais maligno que um boi preto!

Depois de uma frustrante busca por uma canção infantil do folclore brasileiro que fosse positiva e de uma longa reflexão, eu descobri toda a origem dos problemas do Brasil.

O problema do Brasil é que a sua população em geral tem uma estima muito baixa. Isso faz com que os brasileiros se sintam sempre inferiores e ameaçados, passivos o suficiente para aceitar qualquer tipo de extorsão e exploração, seja interna ou externa. Por que isso acontece? Trauma de infância! Trauma causado pelas canções da infância.

Explicar-lhes-ei!

Me dei conta que as músicas infantis brasileiras são extremamente trágicas! Aí está a gênese de toda baixa estima do brasileiro. Nós somos ameaçados, amedrontados e encaramos tragédias desde o berço! Por isso levamos tanta porrada da vida e ficamos quietos.

Exemplificarei minha tese:




Atirei o pau no gato-to-to
Mas o gato-to-to não morreu-reu-reu
Dona Chica-ca-ca admirou-se-se
Do berrô, do berrô que o gato deu:
Miaaau!
Para começar, esse clássico do cancioneiro infantil é uma demonstração clara de falta de respeito aos animais (pobre gato) e crueldade (por que atirar o pau no gato, essa criatura tão indefesa?). E para acentuar a gravidade, ainda relata o masoquismo dessa mulher sob a alcunha de "D. Chica".
Uma vergonha!




Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré, marré, marré.
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré de si.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré, marré, marré.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré de si.

Colocar a realidade tão vergonhosa da desigualdade social em versos tão doces faz com que os brasileiros tenham como algo normal essa (não) distribuição de renda vergonhosa que condena muitos à miséria e agracia pouquíssimos com uma riqueza exorbitante.



Vem cá, Bitu ! vem cá, Bitu !
Vem cá, meu bem, vem cá !
Não vou lá ! Não vou lá, Não vou lá !
Tenho medo de apanhar.


Medo! Sim, medo! Por causa desse tipo de canção os brasileiros não sentem que estão tendo sua liberdade destruída pela violência. Os brasileiros convivem com o Medo como se fosse algo normal...


Marcha soldado,
Cabeça de papel!
Quem não marchar direito,
Vai preso pro quartel.

De novo: ameaça. Autoritarismo e abuso de poder escondidos em versos aparentemente inofensivos...


A canoa virou,
Foi deixar ela virar,
Foi por causa da (nome de pessoa)
Que não soube remar.

Ao invés de incentivar o trabalho de equipe e o apoio mútuo, as crianças brasileiras são ensinadas a apontar o dedo e condenar um semelhante. Colocar a culpa em alguém é tido como mais fácil do que refletir sobre as próprias atitudes...
Que vergonha!


Samba-lelê está doente,
Está com a cabeça quebrada.
Samba-lelê precisava
É de dezoito lambadas.

Impiedade!

A moça, conhecida como Samba-lelê, encontra-se com a saúde debilitada, necessita de cuidados médicos mas, ao invés de compaixão e apoio, a música diz que ela precisa de dezoito lambadas! Essa música é claramente uma manipulação organizada pelas grandes indústrias e pelo governo, incutindo a idéia de que a doença é algo errado que deve ser punido nas cabeças das crianças brasileiras.

As grandes indústrias garantem que seus futuros empregados não lutem por direitos trabalhistas em caso de doença. A letra da música diz, em outras palavras, que um empregado doente deve aceitar ser demitido por justa causa!

Um homem bateu em minha porta, e eu abri: senhoras e senhores ponham mão no chão...

Essa música relata um assalto - incutindo a idéia de violência e roubo nos pequenos infantes!


Fui no Tororó
Beber água não achei;
Achei bela morena
Que no Tororó deixei.
Percebem o tratamento que é dado à mulher aqui? A mulher é tratada como um pedaço de carne, algo que se usa quando não tem nada melhor para fazer e depois descarta-se imediatamente...


 Sete e sete são catorze, com mais sete vinte um
Tenho sete namorados
E não gosto de nenhum












Como assim 7 namorados? Eis a origem da licenciosidade e tendência à infidelidade de todos os brasileiros...





O anel que tu me deste
Era vidro e se quebrou.
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou.."







Se não bastasse o papo dos 7 namorados... como crescer e acreditar no amor e no casamento depois de ouvir essa passagem anos a fio? 
















O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada;
O cravo saiu ferido
E a rosa despedaçada.
O cravo ficou doente,
A rosa foi visitar;
O cravo teve um desmaio,
A rosa pôs-se a chorar.




Desgraça, desgraça, desgraça!!! E ainda incita a violência conjugal (releia a primeira estrofe).


C U I D A D O ! O refrão abaixo contém versos muito fortes! Talvez essa seja a mais perigosa música infantil brasileira e ao mesmo tempo, superficialmente, ela é uma das mais inofensivas!



Cai, cai, balão !
Cai, cai, balão !
Na rua do sabão.
Não cai, não !
Não cai, não !
Não cai, não !
Cai aqui na minha mão




Essa música não só induz à uma tragédia aérea com um balão (cai, cai, balão) como também é uma óbvia e clara apologia ao suicídio! (cai aqui na minha mão)


Amigos, precisamos conter essa terrível disseminação de idéias quase demoníacas nas músicas de nossas crianças! E olha que nem precisamos tocar as músicas ao contrário, as mensagens estão lá, diretas e óbvias!

Conto com a sua cooperação!

Jamais brinque de roda ou cante canção de ninar para crianças ao seu redor. Alertem seus amigos para fazerem o mesmo!

O futuro do Brasil está em suas mãos!!!!”


 
Fiquei sem saber quem é o autor do comentário abaixo, mas estou dando crédito ao site e parabenizando o autor pelo humor e pelo brilhantismo.






Segundo a desconhecida autora, que usa o disfarce de "Au Pair", ou seja, babá e estudante nos Estados Unidos da América, os males do Brasil são decorrentes das canções de ninar.

Preconceito, masoquismo, apologia do suicídio, disseminação do medo, falta de respeito aos animais, autoritarismo, abuso de poder, indução a tragédia aérea, incitação à violência conjugal. A lista é grande como grande é o desatino de pessoas que continuam a cantar e a divulgar essas canções.

Um horror!

Vejamos alguns casos citados na mensagem.

A música "boi da cara preta" [é] uma ameaça horrorosa e mordaz, pois incita um bovino de cor negra a pegar uma cândida menina que tem medo até de uma inocente careta.

Esta é a razão número um. Existem outras.

Atirei o pau no gato-to-to
Mas o gato-to-to não morreu-reu-reu? 

Politicamente incorreta, pois onde já se viu atirar o pau no gato, essa criatura tão indefesa? Para completar, ainda aparece o masoquismo dessa mulher sob a alcunha de "D. Chica".

Pior do que o boi da cara preta não poderia existir, mas existe, sim:







nana neném que a cuca vai pegar...?

Caramba... outra ameaça! Agora com um ser ainda mais maligno que um boi preto!

Boi da cara preta, já vi muitos. A cuca ainda não encontrei, de modo que não posso assegurar a malignidade dessa entidade terrível. Por via das dúvidas, e parafraseando o sábio ditado espanhol, no creo en cucas, pero que las hay, hay

Além de bichos-papões, o cancioneiro popular (puro clichê:) trata de temas igualmente graves como a realidade tão vergonhosa da desigualdade social na modinha







Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré, marré, marré....
Eu sou rica, rica, rica,
De marré, marré, marré.




Como simples e modesta contribuição: de marré significa de mentira ou de mentirinha, no idioma das crianças e de muitos adultos.

Continuemos.







Vem cá, meu bem, vem cá !
Não vou lá ! Não vou lá, Não vou lá !

Tenho medo de apanhar.






Essa canção deve ter sido o mote de inspiração para o Projeto de Lei da Palmada (PL 2654/2003). A autora do projeto, deputada pelo PT/RS, em boa hora tratou de elaborar medidas no sentido de que(!) fosse coibido tal abuso. Talvez o próximo passo seja proibir a modinha.

O PL 2654 é de 2003 e tartarugou, penosamente, por comissões e relatores até que veio à tona em julho de 2010. Estamos em dezembro de 2010 e o apelo Vem cá, meu bem continua a amedrontar crianças do Brasil, pois ainda não houve consenso na Câmara dos Deputados e o Projeto de Lei ainda não foi ao plenário para votação.

Enquanto isso, os brasileiros não sentem que estão tendo sua liberdade destruída pela violência.



Marcha Soldado

Cabeça de papel!



 
Autoritarismo e abuso de poder estão embutidos nessa marchinha. A autora esquece a referência à cabeça de papel do soldado que marcha. O que existe dentro dessa cabeça?










A canoa virou,...
Foi por causa da (nome de pessoa)
Que não soube navegar.

as crianças brasileiras são ensinadas a apontar o dedo e condenar um semelhante. Explica a estudante "Au Pair".

Mente privilegiada, a estudante encontrou em modinha do folclore a previsão do causaéreo que perturbou o país em 2007:

Cai, cai, balão !
Na rua do sabão.
Não cai, não !...
Cai aqui na minha mão !

Essa música não só induz à uma tragédia aérea ... como também é uma óbvia e clara apologia ao suicídio! (cai aqui na minha mão)

Samba-lelê está doente,
Está com a cabeça quebrada. 

A intérprete não percebe o que acontece com Samba-lelê: ela está com a cabeça quebrada e não com a saúde debilitada. Traumatismo Crânio-encefálico é o mal da garota. Algo bem mais grave.

A música continua desenvolvendo raciocínio de dona de casa descuidada e irresponsável:



Como é que cozinha
Bota a panela no fogo
Vai conversar com a vizinha


Percebe? Em lugar ficar cuidando da alimentação da família Samba-lelê vai fofocar com a vizinhança.

Enfim, a lista das perigosas canções do folclore brasileiro pode ser aumentada. Outras modinhas e canções de ninar contêm imagens sutis que visam incutir o medo, a subserviência, a maldade na mente das nossas criancinhas.

Segundo madame "Au Pair", as canções penetram de tal forma no inconsciente da criança que a leva, quando adulta, a ter comportamento de brasileiro ou brasileira, naquele sentido de coitadinho, sofrido, sem perspectiva nem esperança, em decorrência de trauma de infância ocasionado por canções folclóricas, que, em última análise, são verdadeiros cantos de terror.

Uma frase bastante curiosa vem logo no início da mensagem: Como vocês sabem, estou nos Estados Unidos da América participando de um projeto ultra secreto.

Eu, pelo menos, não sabia de nada sobre esse ultra-secreto projeto. E você? Sabia? :{



E o que dizer de canção popular que induz ao desperdício?


Se esta rua se esta rua fosse minha
Eu mandava, eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante
Para o meu, para o meu amor passar. 

Milhares de quilates de brilhantes jogados, literalmente, na rua quando milhões de brasileiros mal conseguem dinheiro para comprar um anel de zircônia para colocar no dedo magro de medo...

E todo esse esbanjamento apenas para se mostrar, para aparentar riqueza.



Terezinha De Jesus é um verdadeiro incentivo à falta de consideração à própria família. Depois de cair ao chão, e antes mesmo de verificar a gravidade da queda, Terezinha recusa a ajuda do próprio pai!

Sei não, mas acho que a moça Au Pair está coberta de razão :) 

Conclusão: bem que essa história é divertida. Melhor do que tratar de cavalos de tróia e de golpes de vigaristas.




(http://www.quatrocantos.com/lendas/509_musicas_folcloricas_cancoes_de_ninar.htm)
 
 


 

10 comentários:

  1. Olha, eu até concordo que exista muita coisa errada nessas canções, mas também acho um exagero que canções como a do Balão, a dos 7 namorados e a do Tororó soem como maquiavélicas ou de mal gosto.
    Essas canções viraram um meme há gerações e nunca vi ninguém com trauma por causa delas. Penso que isso se deve à forma doce com que são cantadas.
    E quem não gosta das canções e acha que elas não servem para seus filhos, uma boa ideia seria parodiar essas músicas ou criar canções novas. Não é possível que vamos passar mais um século inteiro cantando "Atirei o pau no gato".

    Gostei muito do post!
    Beijos.

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    1. Um assunto, no mínimo curioso..rsss
      Acho que nunca mais vou conseguir fazer uma criança dormir com boi da cara preta, sem me sentir culpada..rss

      Obrigada, Wellington..

      Beijos meus

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  2. kkkk Grande sacada da Au Pair,ela esqueceu daquela famosa:

    Cadê o toucinho daqui? O gato comeu.
    Cadê o gato? Tá no mato.
    Cadê o mato? O fogo queimou.
    Cadê o fogo? A água apagou.
    Cadê a água? o boi bebeu.

    Isso [essa modinha] lança um pouco de luz sobre a desenfreada corrupção que assola o Brasil há séculos. kkkkk
    Abraço Dona Manuh/Paulão.

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    1. Tem muitas outras que foram esquecidas aí Paulão..rsss
      Obrigada,

      Beijos meus

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  3. Ahahha...Quanta bobagem,meusdeuses!!!. mas bem urdidas pela "Au Pair"!! Muito bom!

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  4. Olá Ed, prazer recebê-lo aqui, volte sempre!

    Beijos meus

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  5. https://fbcdn-sphotos-a.akamaihd.net/hphotos-ak-snc7/487270_384039034990962_214580729_n.jpg

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  6. https://fbcdn-sphotos-a.akamaihd.net/hphotos-ak-snc7/487270_384039034990962_214580729_n.jpg

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  7. Nossa!Quanta imaginação,heim?Parabéns!!

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  8. A propósito, comecei falando de Cananéia e do que ouvi ali que acabou me inspirando esse post.. Ali, vi professoras ensinando a crianças bem pequenas uma versão bem curiosa de Atirei um pau no gato que dizia assim:
    Não atire o pau no gato (to-to)
    Porque isso (sso-sso)
    Não se faz (faz-faz)
    Ô gatinho (nho-nho)
    É nosso amigo (go)
    Não devemos maltratar
    Os Animais
    Miau!!!

    Beijos meus

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Agradeço a sua visita e participação.