sexta-feira, março 9

* Águas de Março



Aguas de Março
Tom Jobim

É pau, é pedra, é o fim do caminho
 É um resto de toco, é um pouco sozinho
 É um caco de vidro, é a vida, é o sol
 É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol 
É pereba do campo, é o nó da madeira
 Caingá, candeia, é o Matita Pereira
 É madeira de vento, tombo da ribanceira
 É o mistério profundo, é o queira ou não queira 
É o vento ventando, é o fim da ladeira 
É a viga, é o vão, festa da cumueira
 É a chuva chovendo, é conversa ribeira
 Das águas de março, é o fim da canseira 
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
 Passarinho na mão, pedra de atiradeira
 É uma ave no céu, é uma ave no chão
 É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão 
É o fundo do poço, é o fim do caminho
 No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
 É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
 É um pingo pingando, é uma conta, é um conto 
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
 É a luz da manhã, é o tijolo chegando
 É a lenha, é o dia, é o fim da picada
 É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada 
É o projeto da casa, é o corpo na cama
 É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
 É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
 É um resto de mato, na luz da manhã 
São as águas de março fechando o verão
 É a promessa de vida no teu coração 
É uma cobra, é um pau, é João, é José
 É um espinho na mão, é um corte no pé 
São as águas de março fechando o verão,
 É a promessa de vida no teu coração 
É pau, é pedra, é o fim do caminho
 É um resto de toco, é um pouco sozinho
 É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
 É um belo horizonte, é uma febre terçã 
São as águas de março fechando o verão
 É a promessa de vida no teu coração
 Pau, pedra, fim, caminho
 Resto, toco, pouco, sozinho
 Caco, vidro, vida, sol, noite, morte, laço, anzol
 São as águas de março fechando o verão
 É a promessa de vida no teu coração.


É sexta feira, a vida segue...


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradeço a sua visita e participação.