terça-feira, março 13

* Madrugadas da Bela Vista






Preciso confessar!
Faz tempo, não importa quanto, quando, morei na rua São Vicente, um sobradinho geminado de um bairro boêmio, conhecido por Bixiga, em São Paulo. Os fundos do sobrado davam com os fundos da quadra da Escola de Samba VaiVai, um tormento para quem não entendia e nem gostava de Escola de Samba, mas acabou amando.

Hoje, decadente Bela vista, na época, era para onde ia a moçada paulistana em busca de boa música, boa comida, arte, bons contatos, gente de teatro, cinema, azaração e algumas coisinhas mais.

Café Piu Piu, Basilicatta, a Igreja da Achiropita, Mexilhão, perfumadas pizzas das inúmeras pizzarias, os ensaios da VaiVai, o bolo record no Guiness da comemoração do aniversário de Sampa, as roupas penduradas em fios da Av. Ruy
Barbosa para comemorar o ano novo seguindo tradição italiana...

Recém-separada de meu primeiro casamento, sozinha com uma pastora alemã e uma boxer, tentando sobreviver com um trabalho mal pago e sustentar os dois bichos que consumiam mais do que eu, não havia cenário mais improvável para quem precisava refazer a vida do que um bairro que vivia em festa.

Durante a semana, precisava dormir bem à noite para trabalhar no dia seguinte, e as vezes no final de semana também, se havia trabalho extra pra engrossar o magro salário. Mas tinha insônia, saia na madrugada para caminhar com as cachorras pelas poucas ruas tranquilas do bairro... Sem medo, com dois bichos enormes como aqueles, ninguém nem me cumprimentava...rss... Corria, caminhava até a exaustão para dormir.

Sono tranquilo começava despertar com os acordes de Summertime, solo de sax, doce e triste como um choro de saudade... Às vezes mudava a música e tocava Chico Buarque (que eu pensava ser Caymmi...rs), "Morena dos olhos d’água, tira seus olhos do mar, vem ver, que a vida ainda vale o sorriso que eu tenho pra te dar..."
 
Foram cinco anos! Às vezes, em noites insones, eu ansiava por ouvir o sax e não acontecia, outras vezes me acordava inesperadamente depois de semanas de ausência..

Eu nunca soube quem tocava, nem nunca tentei saber... 


Mas era lindo!









2 comentários:

  1. Dio mi ha deliziato con questo Bairo di Bixiga, ho solo a passeggiare questa bella terra che è São Paulo.

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  2. Dona Manuh!!! A senhora está deliciosamente lirica. Saxofone/piano [lindo], Bixiga [vamos lá], Caetano no banquinho e um violão, um luxo. Beijo/Paulão.

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Agradeço a sua visita e participação.