domingo, novembro 25

* Homens contra o machismo



Não sei de quem é esse texto, encontrei num site, Protopia. Resolvi publicar porque considerei bem interessante o ponto de vista do autor em um dos sutis "privilégios" que o machismo concede aos homens. 

Vamos ao texto:




Manifesto: Homens contra o machismo! 

Homens contra o machismo 

Não pelas mulheres  

Não. Não é pelas mulheres que lutamos contra o machismo. Não é pelos muitos males que o machismo historicamente ocasionou e ainda hoje ocasiona às mulheres. Nisso não há muita novidade, visto que faz um século que já é dito das muitas formas que há para se divulgar informação: passeatas com cartazes, sutiãs queimados em praça pública, peças de teatro, filmes, palestras, teses de mestrado, novelas, artigos de revista, jornal, livros e principalmente nos discursos cotidianos dentro dos lares. Todos já sabem disso e mesmo assim o machismo ainda existe em nossas civilizações. Está sem dúvida diferente daquele do início do século passado, mas sobrevive, insiste e se perpetua para as próximas gerações em nossas modernas sociedades neoliberais.
Sim. É pelos homens que lutamos contra o machismo! É aí que está a novidade. Quem sabe com isso a gente desatola o movimento de revolução social contra o machismo que, depois de tantas lutas e conquistas de direitos para mulher, está estagnado.
O que pouco se disse sobre o assunto é que O MACHISMO PREJUDICA OS HOMENS! 
Acorda homem! Faz um século que as mulheres lutam contra o machismo e nós estamos somente na defensiva! O que nos prende é a ilusão de que o machismo nos beneficia.
Percebe homem, como hoje o machismo é perpetuado pelas mulheres. 
Não quero dizer que o homem não sustenta a cultura machista com suas atitudes. É claro que sim. É claro! Esse é o detalhe: é claro para todos. Todo mundo já está cansado de saber disso, todo mundo sabe apontar uma postura ou uma atitude machista de um homem. Muitas vezes, até ele mesmo consegue admitir isso, mesmo que não consiga mudar.
Mas, e o machismo das mulheres? Quem é que está apontando?
O machismo encontra atrás da falsa ideia de que as mulheres são antimachistas o esconderijo perfeito para se perpetuar em nossas culturas, onde ainda se acredita que os homens têm muito mais atitudes machistas do que as mulheres. Isso não existe nem nunca existiu! – trata-se de um pacto onde homens e mulheres assumem e divulgam o machismo com suas atitudes. Entre homens e mulheres não cabe enxergar quem é mais ou menos machista, mas sim como cada um é machista à sua forma e o quanto o machismo interessa a cada um.
Como causa e consequência do machismo, as mulheres continuam sendo  as principais cuidadoras das crianças. Bastava uma ou duas gerações criadas de forma não machista para que os hábitos machistas fossem extintos na grande maioria dos lares.

 
A mãe é a principal responsável por uma criação que exige das meninas que se tornem mulheres capazes de assumir seus próprios lares no futuro; enquanto que dos meninos… não se exige que eles desenvolvam a autogestão de sua esfera doméstica – roupas, comida, limpeza da casa e, invariavelmente, os tornam mimados e dependentes de uma mulher para fazê-lo.
Pergunte a qualquer mulher que teve irmãos, se sua mãe fazia ou não fazia distinção entre os filhos homens e mulheres na solicitação e exigência de assumirem as tarefas de casa.
Acorda homem! Pensa no que mudou da primeira década de 1900 para a primeira década de 2000. Naquela época a criação dada às meninas podava sua capacidade de atuação na esfera social, mas lhe dava plena competência na esfera doméstica; já com os meninos ocorria o contrário: eram incentivados a atuar na esfera social e completos incompetentes na esfera doméstica, incapazes de sustentar um lar sem depender de alguma mulher, fosse mãe, esposa ou empregada doméstica.
O que mudou foi que hoje as mulheres atuam de forma eficaz e competente em todos os ramos da esfera social: empresarial, político, artístico, etc. Toda mãe e todo pai exige que sua filha estude, tenha possibilidade de trabalhar, gerar renda, projetar-se socialmente de forma a “não depender de homem algum”.

 
E os homens? Criaram nesse um século que nos separa de 1900 a capacidade de responsabilizar-se pela manutenção de um lar, competência e eficácia para atuar na esfera doméstica, de forma a não depender de mulher nenhuma? Ou ainda continuamos dependentes de uma mãe, uma esposa ou uma empregada doméstica para que nossas casas não se tornem uma imensa bagunça: pia cheia de louça por lavar, chão sujo, comida de má qualidade, e tudo mais que é de praxe se encontrar na casa de homens recém-saídos da casa dos pais que tentam montar suas próprias casas?
Não estamos exatamente iguais há um século, sem dúvida muitos homens hoje em dia sabem “se virar” na cozinha, organizam suas casas sozinhos ou ajudam suas mulheres nisso. Mas, a grande maioria dos homens é assim? Ou são apenas alguns?
Agora, a grande maioria das mulheres tem capacidade de arrumar emprego, fazer carreira profissional, ter seu carro, sair, beber nos bares, ir a shows, bailes, apresentarem-se como artistas, cantoras, atoras, participar da vida pública, da política e tudo mais que seja da esfera social.
Percebe-se claramente a defasagem do homem. 

A quem o machismo prejudica mais? 

Por que, por exemplo, é tão mais difícil para os homens ultrapassar a crise da aposentadoria?

Porque os homens que se aposentam hoje foram criados há cerca de 50 anos atrás, dentro da tradicional criação machista. Esses homens encontram sérias dificuldades para achar seu lugar dentro de casa. Ainda hoje, início do séc. XXI, a casa é território da mulher. Principalmente as casas de mulheres educadas há cerca de 50 anos atrás. Invariavelmente, com raras exceções, a cozinha das casas dos casais casados tem mais o jeito, a “cara” da mulher do que do homem. As mulheres da época que esses homens foram criados por suas mães tinham um ditado que dizia: “homem na cozinha só atrapalha”. “Quer ver homem atrapalhar é na hora da limpeza geral da casa. O homem fica como um móvel que se arrasta para cá e para lá, muda de cômodo, enquanto sobe poeira, joga água, passa cera.
A armadilha que prende o homem a essa situação é a ilusão de que ele se beneficia ao não ter o trabalho doméstico. Uma folga que não vale a pena que custa, pois não se vive sem um lar. E se o homem não tem a capacidade de manter sozinho um lar de qualidade, gostoso, aconchegante, limpo, com comida boa, ele vai depender de uma ou mais mulheres.
As mulheres, pelo contrário, conseguem manter um lar de qualidade independentes dos homens.
Saltam aos olhos a quantidade de homens que morrem nos primeiros anos após a aposentadoria. E não é preciso pesquisa porque todo mundo conhece um ou mais casos, basta puxar esse assunto numa roda de conhecidos que alguém logo lembra de um.
O mesmo não acontece com as mulheres que se aposentam. 
Quando se rompe bruscamente a atuação na esfera social como no caso da aposentadoria, até que o homem possa estabelecer outras atividades sociais além do trabalho, ele precisa de um tempo para ficar confuso, descansar, retomar fôlego, repensar. Nem sempre encontra em sua própria casa um bom lugar para superar suas crises, um refúgio onde se encontre, onde também se veja refletido em obra, na materialidade à sua volta, como acontecia no trabalho.

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