Não sei de quem é esse texto, encontrei num site, Protopia. Resolvi publicar porque considerei bem interessante o ponto de vista do autor em um dos sutis "privilégios" que o machismo concede aos homens.
Vamos ao texto:
Manifesto: Homens contra o machismo!
Homens contra o machismo
Não pelas mulheres
Não. Não é pelas mulheres que lutamos contra o machismo. Não
é pelos muitos males que o machismo historicamente ocasionou e ainda hoje
ocasiona às mulheres. Nisso não há muita novidade, visto que faz um século que
já é dito das muitas formas que há para se divulgar informação: passeatas com
cartazes, sutiãs queimados em praça pública, peças de teatro, filmes,
palestras, teses de mestrado, novelas, artigos de revista, jornal, livros e
principalmente nos discursos cotidianos dentro dos lares. Todos já sabem disso
e mesmo assim o machismo ainda existe em nossas civilizações. Está sem dúvida
diferente daquele do início do século passado, mas sobrevive, insiste e se
perpetua para as próximas gerações em nossas modernas sociedades neoliberais.
Sim. É pelos homens que lutamos contra o machismo! É aí que
está a novidade. Quem sabe com isso a gente desatola o movimento de revolução
social contra o machismo que, depois de tantas lutas e conquistas de direitos
para mulher, está estagnado.
O que pouco se disse sobre o assunto é que O MACHISMO
PREJUDICA OS HOMENS!
Acorda homem! Faz um século que as mulheres lutam contra o
machismo e nós estamos somente na defensiva! O que nos prende é a ilusão de que
o machismo nos beneficia.
Percebe homem, como hoje o machismo é perpetuado pelas
mulheres.
Não quero dizer que o homem não sustenta a cultura machista
com suas atitudes. É claro que sim. É claro! Esse é o detalhe: é claro para
todos. Todo mundo já está cansado de saber disso, todo mundo sabe apontar uma
postura ou uma atitude machista de um homem. Muitas vezes, até ele mesmo
consegue admitir isso, mesmo que não consiga mudar.
Mas, e o machismo das mulheres? Quem é que está apontando?
O machismo encontra atrás da falsa ideia de que as mulheres
são antimachistas o esconderijo perfeito para se perpetuar em nossas culturas,
onde ainda se acredita que os homens têm muito mais atitudes machistas do que
as mulheres. Isso não existe nem nunca existiu! – trata-se de um pacto onde
homens e mulheres assumem e divulgam o machismo com suas atitudes. Entre homens
e mulheres não cabe enxergar quem é mais ou menos machista, mas sim como cada
um é machista à sua forma e o quanto o machismo interessa a cada um.
Como causa e consequência do machismo, as mulheres continuam
sendo as principais cuidadoras das
crianças. Bastava uma ou duas gerações criadas de forma não machista para que
os hábitos machistas fossem extintos na grande maioria dos lares.
A mãe é a principal responsável por uma criação que exige
das meninas que se tornem mulheres capazes de assumir seus próprios lares no
futuro; enquanto que dos meninos… não se exige que eles desenvolvam a
autogestão de sua esfera doméstica – roupas, comida, limpeza da casa e,
invariavelmente, os tornam mimados e dependentes de uma mulher para fazê-lo.
Pergunte a qualquer mulher que teve irmãos, se sua mãe fazia
ou não fazia distinção entre os filhos homens e mulheres na solicitação e
exigência de assumirem as tarefas de casa.
Acorda homem! Pensa no que mudou da primeira década de 1900
para a primeira década de 2000. Naquela época a criação dada às meninas podava
sua capacidade de atuação na esfera social, mas lhe dava plena competência na
esfera doméstica; já com os meninos ocorria o contrário: eram incentivados a
atuar na esfera social e completos incompetentes na esfera doméstica, incapazes
de sustentar um lar sem depender de alguma mulher, fosse mãe, esposa ou
empregada doméstica.
O que mudou foi que hoje as mulheres atuam de forma eficaz e
competente em todos os ramos da esfera social: empresarial, político,
artístico, etc. Toda mãe e todo pai exige que sua filha estude, tenha
possibilidade de trabalhar, gerar renda, projetar-se socialmente de forma a
“não depender de homem algum”.
E os homens? Criaram nesse um século que nos separa de 1900
a capacidade de responsabilizar-se pela manutenção de um lar, competência e
eficácia para atuar na esfera doméstica, de forma a não depender de mulher
nenhuma? Ou ainda continuamos dependentes de uma mãe, uma esposa ou uma
empregada doméstica para que nossas casas não se tornem uma imensa bagunça: pia
cheia de louça por lavar, chão sujo, comida de má qualidade, e tudo mais que é
de praxe se encontrar na casa de homens recém-saídos da casa dos pais que
tentam montar suas próprias casas?
Não estamos exatamente iguais há um século, sem dúvida
muitos homens hoje em dia sabem “se virar” na cozinha, organizam suas casas
sozinhos ou ajudam suas mulheres nisso. Mas, a grande maioria dos homens é
assim? Ou são apenas alguns?
Agora, a grande maioria das mulheres tem capacidade de
arrumar emprego, fazer carreira profissional, ter seu carro, sair, beber nos
bares, ir a shows, bailes, apresentarem-se como artistas, cantoras, atoras,
participar da vida pública, da política e tudo mais que seja da esfera social.
Percebe-se claramente a defasagem do homem.
A quem o machismo prejudica mais?
Porque os homens que se aposentam hoje foram criados há
cerca de 50 anos atrás, dentro da tradicional criação machista. Esses homens
encontram sérias dificuldades para achar seu lugar dentro de casa. Ainda hoje,
início do séc. XXI, a casa é território da mulher. Principalmente as casas de
mulheres educadas há cerca de 50 anos atrás. Invariavelmente, com raras
exceções, a cozinha das casas dos casais casados tem mais o jeito, a “cara” da
mulher do que do homem. As mulheres da época que esses homens foram criados por
suas mães tinham um ditado que dizia: “homem na cozinha só atrapalha”. “Quer
ver homem atrapalhar é na hora da limpeza geral da casa. O homem fica como um
móvel que se arrasta para cá e para lá, muda de cômodo, enquanto sobe poeira,
joga água, passa cera.
A armadilha que prende o homem a essa situação é a ilusão de
que ele se beneficia ao não ter o trabalho doméstico. Uma folga que não vale a
pena que custa, pois não se vive sem um lar. E se o homem não tem a capacidade
de manter sozinho um lar de qualidade, gostoso, aconchegante, limpo, com comida
boa, ele vai depender de uma ou mais mulheres.
As mulheres, pelo contrário, conseguem manter um lar de
qualidade independentes dos homens.
Saltam aos olhos a quantidade de homens que morrem nos
primeiros anos após a aposentadoria. E não é preciso pesquisa porque todo mundo
conhece um ou mais casos, basta puxar esse assunto numa roda de conhecidos que
alguém logo lembra de um.
O mesmo não acontece com as mulheres que se aposentam.
Quando se rompe bruscamente a atuação na esfera social como
no caso da aposentadoria, até que o homem possa estabelecer outras atividades
sociais além do trabalho, ele precisa de um tempo para ficar confuso, descansar,
retomar fôlego, repensar. Nem sempre encontra em sua própria casa um bom lugar
para superar suas crises, um refúgio onde se encontre, onde também se veja
refletido em obra, na materialidade à sua volta, como acontecia no trabalho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Agradeço a sua visita e participação.