A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu
legado
Saber viver é a
grande sabedoria
Que eu possa
dignificar
Minha condição de
mulher,
Aceitar suas
limitações
E me fazer pedra de
segurança
dos valores que vão
desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.
(Cora Coralina)
*.*.*.*.*
É que tem mais chão nos meus olhos
do que cansaço nas
minhas pernas,
mais esperança nos
meus passos
do que tristeza nos
meus ombros,
mais estrada no meu
coração do que medo na minha cabeça."
(Cora Coralina)
Mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos
grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra
poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos
becos e ruas históricas de Goiás.
Filha de Francisco Paula Lins Guimarães Peixoto,
desembargador nomeado por D. Pedro II, e de Jacinta Luísa do Couto Brandão, Ana
nasceu e foi criada às margens do rio Vermelho, em casa comprada por sua
família no século XIX, quando seu avô ainda era uma criança. Estima-se que essa
casa foi construída em meados do século XVIII, tendo sido uma das primeiras
edificações da antiga Vila Boa de Goiás.
Começou a escrever os seus primeiros textos aos 14 anos de
idade, publicando-os nos jornais da cidade de Goiás, e nos jornais de outras
cidades, como constitui exemplo o semanário "Folha do Sul" da cidade
goiana de Bela Vista - desde a sua fundação a 20 de janeiro de 1905 -, e nos
periódicos de outros rincões, assim a revista A Informação Goiana do Rio de
Janeiro, que começou a ser editada a 15 de julho de 1917, apesar da pouca
escolaridade, uma vez que cursou somente as primeiras quatro séries, com a
Mestra Silvina. Melhor, Mestre-Escola Silvina Ermelinda Xavier de Brito (1835 -
1920). Conforme Assis Brasil, na sua antologia "A Poesia Goiana no Século
XX", Rio de Janeiro: IMAGO Editora, 1997, página 66, "a mais recuada
indicação que se tem de sua vida literária data de 1907, através do semanário
'A Rosa', dirigido por ela própria e mais Leodegária de Jesus, Rosa Godinho e
Alice Santana." Todavia, constam trabalhos seus nos periódicos goianos
antes dessa data. É o caso da crônica "A Tua Volta", dedicada 'Ao
Luiz do Couto, o querido poeta gentil das mulheres goyanas', estampada no
referido semanário "Folha do Sul", da cidade de Bela Vista, ano 2, n.
64, p. 1, 10 de maio de 1906.
Ao tempo em que publica essa crônica, ou um pouco antes,
Cora Coralina começa a frequentar as tertúlias do "Clube Literário
Goiano", situado em um dos salões do sobrado de dona Virgínia da Luz
Vieira. Que lhe inspira o poema evocativo "Velho Sobrado". Quando
começa então a redigir para o jornal literário "A Rosa" (1907). Publicou
nessa fase, em 1910, o conto Tragédia na Roça.
Casou em 1910 com o advogado Cantídio Tolentino de
Figueiredo Bretas, com quem se mudou, no ano seguinte (quando ele, Cantídio,
exercia a Chefatura de Polícia, cargo equivalente ao de Secretário da
Segurança, do governo do presidente Urbano Coelho de Gouvêa - 1909 - 1912),
para o interior de São Paulo, onde viveu durante 45 anos, inicialmente nos
municípios de Avaré e Jaboticabal e depois em São Paulo (1924). Ao chegar à
capital, teve de permanecer algumas semanas trancada num hotel em frente à
Estação da Luz, uma vez que os revolucionários de 1924 haviam parado a cidade.
Em 1930, presenciou a chegada de Getúlio Vargas à esquina da
rua Direita com a Praça do Patriarca. Um de seus filhos participou da Revolução
Constitucionalista de 1932.
Com a morte do marido, passou a vender livros.
Posteriormente, mudou-se para Penápolis, no interior do estado, onde passou a
produzir e vender linguiça caseira e banha de porco. Mudou-se em seguida para
Andradina, até que, em 1956, retornou para Goiás.
Ao completar 50 anos de idade, a poetisa relata ter passado
por uma profunda transformação interior, a qual definiria mais tarde como
"a perda do medo". Nessa fase, deixou de atender pelo nome de batismo
e assumiu o pseudônimo que escolhera para si muitos anos atrás. Durante esses
anos, Cora não deixou de escrever poemas relacionados com a sua história
pessoal, com a cidade em que nascera e com ambiente em que fora criada. Ela
chegou ainda a gravar um LP declamando algumas de suas poesias. Lançado pela gravadora
Paulinas - Comep, o disco ainda pode ser
encontrado hoje em formato CD. Cora Coralina faleceu em Goiânia. A sua casa na
Cidade de Goiás foi transformada num museu em homenagem à sua história de vida
e produção literária.
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