segunda-feira, setembro 3

* Onde os oceanos se encontram

 
 

Onde os oceanos se encontram  

Onde todos os oceanos se encontram, aflora uma pequena ilha. Ali, vivem desde sempre Lânia e Lisíope, ninfas irmãs que vivem a serviço do mar, que ali depositava os corpos de pessoas afogadas. Cabia a Lânia a mais forte, retira-los do mar e a Lísiope limpar e envolve-los nos lençóis de linho e devolver ao mar. Foi num desses dias que Lânia viu um corpo e foi retirá-lo. Viu que era um homem jovem e bonito. Apaixonou-se perdidamente e decidiu não devolver o morto ao mar. Foi à língua de pedra estreita e cortante que avançava mar adentro e chamou a Morte pedindo á ela vida ao homem. A Morte concordou dizendo que quando a maré subisse e tocasse com a primeira espuma seus cabelos, ele viveria. E assim ocorreu.

 Só que ao abrir os olhos o homem sorriu e se apaixonou por Lisíope, sua irmã. Argumentos, choradeiras, nada demoveu o casal de amantes. Desesperada Lânia foi falar com a Morte e pediu para ela levar Lisíope e deixasse o homem e ela a sós. E nada mais quereria. A Morte concordou dizendo que Lisíope deveria deitar com os pés voltados para o mar, na areia da praia. Quando, o primeiro beijo de sal a aflorasse, ela o levaria. Feito isso, a ninfa seduziu a irmã até a praia e preparou-lhe a cama numa noite de luar, noite quente e perfumada. Escondeu-se numa árvore e esperou. Só que o mar estava calmo e demorou a fazer ondas. Lânia dormiu atrás da árvore. E o moço dormiu ali perto, acordando com um raio de luar e procurando Lisíope. Viu-a na praia, foi ao seu lado e não querendo acordá-la, deitou-se ao seu lado e abraçou-a. Lânia acordou com o dia claro e viu o travesseiro abandonado, o lençol flutuando ao longe. E nenhum sinal da irmã. Contente, foi conferir. Mas não correu muito. Diante de seus passos, estampada na areia, deparou-se com a forma de dois corpos deitados lado a lado. A maré já havia apagado os pés, breve chegaria a cintura. Mas na areia molhada a marca das mãos se mantinha unida, como se á espera das ondas que subiam.
(Marina Colassanti)

2 comentários:

  1. É muito doloroso quando a paixão é uni-lateral; com o tempo e repetições transforma-se numa dor poética. rsss Abraço, Paulão

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  2. Pois é, amores mal resolvidos produzem muita loucura e felizmente, muito mais frequentemente, muita poesia..rss

    Obrigada pela participação,

    Beijos meus

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