sábado, janeiro 28

* O Parangolé Pamplona de Hélio Oiticica, a gente mesmo faz!


MADE-ON-THE-BODY CAPE 1968 (PARANGOLE PAMPLONA)


- CAPA FEITA NO CORPO 274cm/108cm no comprimento

        
          - Cada pedaço de pano deve medir 3 yards no comprimento;

        - Para fazer a capa o pano não pode ser cortado;

        - Alfinetes-de-fralda devem ser usados na construção e depois o pano pode ser costurado para fazer a capa permanente;

       - A estrutura construída no corpo deve ser improvisada pelo próprio participante (se precisar da ajuda de outra pessoa, ok) e feita de forma que possa ser retirada sem cortar;

- Algumas pessoas podem participar juntas, mas uma só cor, i.e., um só pedaço de pano deve ser usado para cada capa. (Hélio Oiticica).


Hélio Oiticica é um dos artistas mais importantes do nosso país, revolucionário em sua arte, influenciou gerações, o próprio nome “Tropicália” surgiu de uma instalação homônima dele. Foi responsável, assim como Lygia Clark, por nos tirar do gueto nacional. Impossível falar em arte contemporânea brasileira sem citá-lo. Com um histórico desses, que eu apenas pincelei pra não me estender muito, em qualquer lugar do mundo que se valorize arte e cultura, ele seria considerado um patrimônio nacional. Aqui, lamentavelmente, nunca foi cultuado fora do meio acadêmico e artístico, talvez porque ainda persista essa ideia mesquinha de que arte é artigo de luxo, coisa pra rico, elite. Uma pena. E assim vamos perdendo mais um pouco o registro da nossa identidade cultural pós-Colônia.

A primeira vez que tive acesso a informações sobre o trabalho do Hélio foi em 95, numa reportagem da revista VOGUE, assinada pela Márcia Fortes, dona da prestigiada galeria Fortes Vilaça. Naquele momento, o mercado internacional começava a perceber que existia uma arte feita aqui e que não estava ligada diretamente a araras, barquinhos e paisagens tropicais, que dialogava com o que se fazia de mais conceitual no mundo. Os Penetráveis e Parangolés do Hélio sempre fizeram muito sucesso, lá fora, assim como a polêmica série Cosmococa, onde símbolos da cultura pop norte-americana eram contornados com cocaína, uma parceria do artista com Neville de Almeida.

Os Parangolés são os meus favoritos, adoro essa ideia de se “vestir” de arte, dela ter sentido, a partir do momento em que você dá vida a ela. Hoje é modinha se falar em interatividade, mas a primeira vez que ele propôs isso foi na década de 60, no auge da ditadura militar. Quer metáfora melhor do que essa, de convidar as pessoas a se mobilizarem? Um visionário. Não é nenhum consolo, mas como sou bem fatalista, jamais me esqueceria de uma das frases mais previsíveis da Clarice Lispector, para este momento: “As coisas acontecem quando devem acontecer”.  (Luis Fabiano Teixeira)



Esculturas vivas em movimento.







Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 26 de julho de 1937 — Rio de Janeiro, 22 de março de 1980) foi um pintor, escultor, artista plástico e performático de aspirações anarquistas.
É considerado por muitos um dos artistas mais revolucionários de seu tempo e sua obra experimental e inovadora é reconhecida internacionalmente. Neto de José Oiticica, anarquista, professor e filólogo brasileiro, autor do livro O anarquismo ao alcance de todos,1945.
Na década de 1960, Hélio Oiticica criou o Parangolé, que ele chamava de "antiarte por excelência" e uma pintura viva e ambulante. O Parangolé é uma espécie de capa (ou bandeira, estandarte ou tenda) que só mostra plenamente seus tons, cores, formas, texturas, grafismos e textos (mensagens como “Incorporo a Revolta” e “Estou Possuído”) e os materiais com que é executado (tecido, borracha, tinta, papel, vidro, cola, plástico, corda, palha) a partir dos movimentos de alguém que o vista. Por isso, é considerada uma escultura móvel.
Em 1965, foi expulso de uma mostra no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro por levar ao evento, integrantes da Mangueira vestidos com parangolés. A experiência dos morros cariocas fazia parte da dimensão da sua obra.
Foi também Hélio Oiticica que fez o penetrável Tropicália, que não só inspirou o nome, mas também ajudou a consolidar uma estética do movimento tropicalista na música brasileira, nos anos 1960 e 1970. Oiticica o chamava de "primeiríssima tentativa consciente de impor uma imagem "brasileira" ao contexto da vanguarda". Os penetráveis têm como pré-requisito a incursão do visitante, ou seja, os ambientes coloridos só funcionam com a presença do espectador.
Em 2009, um incêndio atingiu a casa onde estava armazenada grande parte da obra do artista carioca. Um prejuízo de US$ 200 milhões. Foram queimados milhares de quadros, esculturas e instalações, entre elas os parangolés (estandartes e bandeiras feitas para serem vestidos em performances). Agora existem poucos espalhados em museus e coleções particulares pelo mundo.




2 comentários:

  1. Há algum motivo em se chamar Parangolé Pamplona música da Calcanhotto?

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  2. Sim, a música faz menção à criação de Helio Oitica, e ela está usando na foto de capa um Parangolé.
    Obrigada pela participação, anônimo..

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Agradeço a sua visita e participação.