sexta-feira, abril 6

* Você tem um amigo?



ENTRE AMIGOS

Para que serve um amigo? Para rachar a gasolina, emprestar a prancha, recomendar um disco, dar carona pra festa, passar cola, caminhar no shopping, segurar a barra. Todas as alternativas estão corretas, porém isso não basta para guardar um amigo do lado esquerdo do peito. 
Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu último livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.
Verdade verdadeira. Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo contruído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão. Veremos. 
Um amigo não racha apenas a gasolina: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos. 
Um amigo não empresta apenas a prancha. Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta. 
Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país. 
Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu. 
Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o reveillon. 
Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado.
Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.
Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um, amém.

(Martha Medeiros)





2 comentários:

  1. Interessante! saí para comprar cigarros e uma pessoa gritou o meu sobrenome. Me detive e fiquei procurando o autor do grito atrás das minhas lentes vencidas, era o filho do "Cabeça Branca" o barbeiro de antigamente. Em cinco minutos nos elogiamos, falamos das nossas falências econômicas, do nosso estado de brochura e até de religião. A despedida foi um forte abraço e votos de Feliz Páscoa. Não sei onde ele mora, se vou encontra-lo amanhã ou nunca mais.
    Tenho amigos; eles estão por aí. rsss Abraço/Paulão.

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  2. Eu também tenho. Encontrei um outro dia numa loja, não lembrei o nome dele. Fiquei constrangida, trabalhou comigo, foi enormemente carinhoso, ficou contando histórias, lembrando de pessoas, perdi a noção do tempo numa conversa agradabilíssima! Quando nos despedimos, nos abraçamos! Continuo sem saber seu nome,mas foi bom saber que as vezes temos amigos que nem sabemos, me fez feliz!
    Obrigada,
    Beijos meus

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