Esse é pseudônimo
de uma jornalista com um projeto no mínimo inusitado.
Existem mulheres, mulheres, mulheres e mulheres.. Viva a diversidade!
Ela quer transar com cem homens em um ano. E conta por quê.
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Imagine um furacão sexual. Descubra que ela tem aparência
comum, não chama a atenção quando entra em um café, tem cerca de 30 anos,
cabelos tingidos de loiro, um rosto comum e um corpo nada escultural. É muito
sorridente e protegida pelo pseudônimo Letícia Fernandez. Desde fevereiro, ela
tenta colocar em prática um projeto: transar com cem homens em um ano. Desde
fevereiro, foram mais de 30 no projeto – quase 120 em sua biografia. Está
atrasada no cronograma, mas isso é o de menos. Sim, ela sempre gostou de sexo.
E depois de uma temporada de crise pessoal que durou um ano, a cama ficou fria
e vazia. Então incluiu nas resoluções de ano novo que iria retomar a vida
sexual. Blogueira desde 2001, decidiu relatar a experiência no blog Cem Homens,
em que conta alguns dos casos e posta textos sobre sexo.
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No momento, Letícia se envolveu com um dos homens que conheceu durante o projeto. Mas isso não significa que tenha desistido. “Hoje não tenho vontade de sair com outra pessoa, mas sei que vou sentir”, disse na entrevista ao iG. E, depois de muitas polêmicas, quando chegou ao homem 28, decidiu parar de postar relatos numerados. Abaixo, ela conta como a experiência está mudando sua forma de perceber a si mesma, sua relação com os homens e o sexo casual.
Letícia F.: Sempre
fui uma pessoa sexual. Antes do blog já tinha transado com cerca de 80 homens.
Mas nos últimos anos, mudei para São Paulo, e, por uma série de mudanças
físicas e psicológicas, eu meio de deixei a parte sexual da minha vida de lado.
No fim de 2010, tomei essa resolução de ano novo. Eu não estava gostando de mim
nesse sentido.
iG: Por quê?
Letícia F.: Quando
você tem parceiros muito espaçados, tende a colocar muita expectativa num cara
só, começa a se encantar, achar que ele é uma graça. E ele não é, mas você está
carente e pensa assim.
Letícia F.: Quando eu vim morar aqui, não conhecia muita
gente. O primeiro ano foi muito difícil, não me sentia segura para conhecer
pessoas.
iG: Você acha que essa variedade de homens na sua vida não
gera dificuldade de criar laços mais fortes?
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iG: O blog mudou sua forma de ver a relação entre homem e
mulher? Qual foi a mudança mais significativa?
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Parei de me destruir nesse sentido. O problema não era eu,
simplesmente às vezes não bate. Tinha um amigo que era uma graça, a gente
gostava das mesmas coisas. Eu beijei ele, não aconteceu nada além disso, mas
virei a louca obsessiva, fiquei no pé. E cada vez que eu cruzava com ele,
derretia, tremia. Parei de ver essa coisa de “feitos um para o outro”. Foi
libertador.
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Letícia F.: Já, e não foi bom, porque o namorado não era
legal. Hoje eu tenho interesse em uma pessoa especificamente. A gente está
aprendendo a lidar com isso, porque hoje eu não tenho vontade de sair com outra
pessoa, mas sei que vou sentir. Mas não tenho nada contra quem namora, quem
casa. Sou contra quem acredita que existe um príncipe encantado. As pessoas têm
que parar com essa mania de colocar a felicidade no outro.
iG: Você acredita que as pessoas criam padrões de quem só
serve para transar, de quem serve para namorar, para casar?
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Letícia F.: Criam, e
isso é errado. Se você é uma pessoa normal, não vai ser perfeita. Quem quer
fazer mais sexo tem que aprender a fazer sexo pelo sexo, não esperando que vá
sair dali uma amizade ou um relacionamento.
Letícia F.: A maioria
das pessoas está disponível, tem muita gente solteira. Uma menina já me
perguntou: “você fica com feio? Porque feio eu não quero”. Perguntei se ela vai
esperar o Brad Pitt; porque ele não vai aparecer. As pessoas têm outras coisas
que são bacanas, e existem outros padrões de belo.
Letícia F.: Tesão eu
tenho sempre. Não vou chegar aos 100 em um ano porque não tenho tempo. Os
homens dão muito trabalho. Se você não pode na hora, a pessoa se sente
rejeitada. Organizar o encontro é muito cansativo com algumas pessoas. Essa é a
parte mais chata.
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Letícia F.: Minha
família é extremamente conservadora. Sexo não é um assunto. Seria problemático
se minha família soubesse.
iG: Muita gente é sexual mas tem conflitos internos pela
educação ou outros motivos. Como você resolveu isso?
Letícia F.: Não sei
exatamente. Nunca fui de julgar os outros nesse sentido. Para mim, piranhagem é
dar em cima de garotos comprometidos. Sair com vários, sempre achei natural.
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Letícia F.: Pouquíssimos foram babacas. A maioria foi só
sexualmente medíocre. O que às vezes acontece é o cara dizer que fez e
aconteceu e não saber nem beijar. É uma forma de machismo. A mulherada é muito
mal comida, e existe sim ainda a ideia de que a mulher é um buraco. O cara manda
ver, mas é para dizer que deu cinco. Isso existe muito. Percebi com o blog é
que a vida sexual das pessoas está pior do que eu imaginava.
Letícia F.: Às vezes
vira um drama. O homem cria uma expectativa de você ser dele, mas ele não quer
ser seu. Quando você não quer ser dele, machuca o ego, a vaidade. A mulher é
socialmente impelida a querer namorar. Quando eles se põem na categoria de
objeto, se sentem muito mal e esquecem que fazem isso a vida inteira. Que ele fez
isso, que o amigo fez isso, que o filho vai fazer isso se não tiver uma
educação diferente.
Letícia F.: Parte da
agressividade é inveja mesmo. Assim como me xingam de puta, xingam outras
mulheres por motivos banais. E o curioso é que muitas são mulheres. É um
preconceito que está arraigado na nossa sociedade. Muitos homens que me xingam
querem ir para a cama comigo. É uma coisa de agredir o que você não pode ter.
Letícia F.: Tenho,
principalmente de virar uma pessoa que só fala sobre isso, embora esteja
me abrindo portas. Mas acho que parte dos jornalistas vê o blog como uma
experiência bem sucedida, e isso depõem mais a favor do que contra.
Letícia F.: Muitas mulheres são abusadas sexualmente por pessoas próximas ou íntimas e desabafam, contam histórias horrorosas que não tinham para quem contar. Recebo histórias de mulheres, e de homens também, que mudaram sua vida sexual a partir do blog, que passaram a aceitar melhor os outros. Claro que eu vou tirar um proveito pessoal do blog, mas ele tem uma função importante. (Verônica Mambrini, iG São Paulo | 24/08/2011)
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EM TEMPO: Dois dias depois dessa postagem, me surpreendi com vários comentários aguardando moderação, particularmente ofensivos A MIM!!! Nada que surpreenda vindo de quem vem, mas com relação ao assunto abordado no post, encontrei um comentário bem interessante de uma outra blogueira datado de 01/09/2011, e ela se refere a uma "entrevista" por telefone, dada à Radio Globo, que teria sido feita com alguém que se dizia Letícia Fernandes, mas não era...
Esse comentário é do blog Escreva Lola Escreva.
Enfim, eu gostaria que esse energúmeno machista que deixou os comentários, que claro, não serão publicados, entendesse que a censura acabou, a Didatura Militar também, mas ele pode se esforçar para que volte se a liberdade dos outros o incomoda tanto!
Vamos ao texto:
Semana passada a chamada do portal Globo pra matéria referia-se a Letícia como “a nova Bruna Surfistinha”. E agora o apresentador da rádio reforça a ideia. Este é o primeiro ponto machista: Bruna Surfistinha foi (é?) uma garota de programa. Prostitutas fazem sexo em troca de dinheiro. Letícia Fernandes (que obviamente é um pseudônimo, e pra se jogar aos leões dessa forma, só mesmo com pseudônimo) não é prostituta. Sei que é difícil acreditar, mas algumas mulheres gostam de sexo. Algumas até fazem sexo por prazer, sem esperar nenhum bem material em troca. Algumas são livres, não devem satisfação a ninguém, e preferem ter vários parceiros. E agora se prepare, pois vou fazer uma grande revelação neste espaço: transar não gasta. A vagina é um órgão elástico. Lavou tá nova. A gente tá no século 21 já? Porque eu consigo conceber esse tipo de mentalidade lá pelos idos de 1850, mas hoje... Seguinte: quando o sexo é consentido, homens têm direito de transar com quem quiserem, quantas vezes quiserem. E é uma grande celebração prum homem contar pros amigos que transou com um monte de mulheres. Quanto maior o número de parceiras, melhor. Mais experiente ele estará (pra quê?), diz a nossa sociedade. Mais másculo. Mais viril. Mais garanhão. A gente quase se sente na obrigação de erguer um monumento pra ele, que ele merece. E ninguém nunca jamais vai perguntar pra ele “Ele cobra?”, ou compará-lo a um garoto de programa.
Esse comentário é do blog Escreva Lola Escreva.
Enfim, eu gostaria que esse energúmeno machista que deixou os comentários, que claro, não serão publicados, entendesse que a censura acabou, a Didatura Militar também, mas ele pode se esforçar para que volte se a liberdade dos outros o incomoda tanto!
Vamos ao texto:
Semana passada a chamada do portal Globo pra matéria referia-se a Letícia como “a nova Bruna Surfistinha”. E agora o apresentador da rádio reforça a ideia. Este é o primeiro ponto machista: Bruna Surfistinha foi (é?) uma garota de programa. Prostitutas fazem sexo em troca de dinheiro. Letícia Fernandes (que obviamente é um pseudônimo, e pra se jogar aos leões dessa forma, só mesmo com pseudônimo) não é prostituta. Sei que é difícil acreditar, mas algumas mulheres gostam de sexo. Algumas até fazem sexo por prazer, sem esperar nenhum bem material em troca. Algumas são livres, não devem satisfação a ninguém, e preferem ter vários parceiros. E agora se prepare, pois vou fazer uma grande revelação neste espaço: transar não gasta. A vagina é um órgão elástico. Lavou tá nova. A gente tá no século 21 já? Porque eu consigo conceber esse tipo de mentalidade lá pelos idos de 1850, mas hoje... Seguinte: quando o sexo é consentido, homens têm direito de transar com quem quiserem, quantas vezes quiserem. E é uma grande celebração prum homem contar pros amigos que transou com um monte de mulheres. Quanto maior o número de parceiras, melhor. Mais experiente ele estará (pra quê?), diz a nossa sociedade. Mais másculo. Mais viril. Mais garanhão. A gente quase se sente na obrigação de erguer um monumento pra ele, que ele merece. E ninguém nunca jamais vai perguntar pra ele “Ele cobra?”, ou compará-lo a um garoto de programa.
Aí uma mulher decide fazer algo parecido... e o mundo
desaba. Porque mulher não pode, entende? Mulher é mulher, homem é homem, é
assim que as coisas são. A gente não fala mais que mulher tem que casar virgem,
mas a gente diz que ela tem que “se valorizar”, se “dar o respeito”. Porque
entregar sexo assim de bandeja sem cobrar, opa, isso é se desvalorizar! (Se bem
que a gente não acha que prostituta se valoriza, acha?). Existe algum termo na
nossa língua que elogie uma mulher com vários parceiros sexuais? Não existe.
Porque não existe a menor intenção de elogiar uma mulher promíscua (e quantos
parceiros são necessários pra ser promíscua?). Mas expressões pra condenar,
insultar, apedrejar uma mulher promíscua existem aos montes: piranha, galinha,
vagabunda, vadia, biscate, p*ta, prostituta... A lista dá algumas voltas no
quarteirão. E volta sempre pro mesmo ponto: mulher, você não tem liberdade pra
decidir com quem, quando, onde, com quantos você vai transar. Ou melhor, até
tem, mas reserve uma enorme dose de paciência pras "verdades" que vai
ouvir dos guardiões da moral e dos bons costumes (que, ironicamente, são os
mesmos que mandam um rapaz pra zona se ele ainda for virgem aos 15 anos).
Eu tenho muito nojo desses moralistas de plantão. E
desconfio que o apresentador do programa não se acha machista. Dizer “Que
loucura! Tem louco pra tudo! Quer bater recorde? Tá tudo no lugar?” não é
machismo não, imagina. É só impressão. O pessoal da mídia é tão liberal, né? O
público é que é conservador. Aham.
Faz uns dez dias, os
mascus abriram um novo perfil no orkut pra mim. Agora tem lá duas Lola
Aronovich, ambas com as minhas fotos. Eles estão lá falando besteiras em meu
nome. Claro que não gosto, mas haters gonna hate. Trolls são trolls. Mascus são
covardes anônimos. Não é o caso de uma Rádio Globo, que ontem trollou a
Letícia. Não precisava nem da Letícia Fake falando por ela pra ser ridículo.
Bastava o que o apresentador disse da Letícia. Horas depois, a Rádio Globo
tirou a entrevista do site e divulgou uma nota absurda, em que basicamente tira
o corpo fora. Porque a gente sabe: a mídia não erra, a mídia é enganada. Ser
mídia é nunca ter que dizer you're sorry. Eu, que sou uma só e tenho um mero
blog, consigo falar com a Letícia hiper facilmente — mando um email, um tweet,
uma DM, ou deixo um comentário no seu blog. Não dá pra acreditar que uma
estação de rádio seja tão incompetente que não consiga fazer o mesmo.
Não sei se cabe um
processo aí. Não sei como funciona. Letícia não é uma pessoa, é um pseudônimo.
Pode processar a Globo, que a ridicularizou numa entrevista? Pra isso, ela
teria que divulgar seu nome? Olha, ninguém merece. É terrível não ter mais o
menor controle do que falam de você, ou por você. Meu bloguinho nunca teve nem
terá 400 mil acessos num dia, mas já teve 83 mil (naquela ameaça de processo do
Tas). E não é bonito. Você não faz mais nada na vida naquela semana. Você vive
só praquilo. E, por mais que você receba muito apoio e carinho, você também
ganha toneladas de ofensas. Não é brinquedo.
Apesar de eu divulgar e torcer
pelo Cem Homens, não tenho certeza que o que Letícia faz é feminismo. Sei que,
com o blog, ela tem descoberto muitas coisas, analisado seus preconceitos,
empatizado mais com mulheres e homossexuais. Mas não sei se é feminismo. O que eu
sei é que o que andam fazendo com ela é machismo. Eu posso discordar da Letícia
em vários pontos. Mas sei disso: pra ser chamada de p*ta, não precisa nem
transar. Basta ser mulher. Os machistinhas aí não estão sendo babacas apenas
com a Letícia, mas com todas as mulheres que insistem em ter sua liberdade
sexual respeitada. E se vocês não sabem, fiquem sabendo: mexeu com uma, mexeu
com todas!
Blog: Escreva Lola Escreva
lola aronovich
Sobre mim
Sexo - Feminino
Profissão - doutora em
literatura em língua inglesa
Local - Fortaleza, Ceará, Brasil
Introdução - Sou professora da
UFC, doutora em Literatura em Língua Inglesa pela UFSC e, na definição genial
de um troll, ingrata com o patriarcado. Neste bloguinho não acadêmico falo de
feminismo, cinema, literatura, política, mídia, bichinhos de estimação,
maridão, combate a preconceitos, chocolate, e o que mais me der na telha.
Apareça sempre e sinta-se em casa. Aqui, meu perfil no orkut. Comunidades, aqui
e aqui. Email: lolaescreva@gmail.com. Meu Twitter também é bem movimentado.
Interesses - cinema, maridão, política, feminismo,
direitos das minorias, preconceitos, animais, livros, xadrez, aceitação do
corpo, liberdade de expressão, finanças pessoais, combate à violência contra a
mulher, mídia, etc
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